Nos últimos tempos, tenho dedicado bastante atenção a temas da agricultura e desenvolvimento em África. Neste contexto, a inovação na agricultura toma formas muito diferentes, desde explorações de subsistência, onde o trabalho é totalmente manual, a grandes explorações comerciais, geralmente geridas por grandes empresas, com adopção de sistemas mais baseados em tecnologias.

Ao analisar sistemas de agricultura capazes de produzir mais e melhor de forma sustentável, a agricultura de conservação surge como um dos conjuntos de técnicas mais divulgados em África, com várias organizações a promover a sua adopção, bem como diversos estudos científicos sobre o tema. No entanto, neste continente, a adopção é mínima.

No meio de um ambiente de quase consenso, podemos encontrar alguns artigos dissonantes, que nos podem fazer pensar e abrir mais o leque de opções de sistemas agrícolas sem esquecer o papel dos cientistas sociais na adopção de inovações.

Na África Subsaariana a agricultura de conservação tem encontrado algumas dificuldades de implementação. Se por um lado, se encontram situações de clima e solos semelhantes aos do Brasil, onde o sistema é apontado como um dos determinantes do sucesso deste país como potência agrícola, por outro, as situações sociais e económicas são muito diferentes.

A agricultura de conservação baseia-se na mobilização mínima do solo, geralmente sementeira directa; manutenção de uma cobertura permanente do solo, muitas vezes os resíduos de cultura; diversidade de culturas, com rotações ou consociações para manter a fertilidade do solo. Em agricultura comercial, este sistema consiste geralmente no uso de semeadores directos, e no combate às infestantes muito dependente do glifosato

Em situações de agricultura essencialmente de subsistência nem sempre será fácil ou conveniente cumprir com estas regras. Existem restrições grandes, tais como a necessidade de usar os resíduos de cultura para alimentar o gado, dificuldade de acesso a herbicidas e a fertilizantes químicos, que por sua vez levam a uma grande exigência de mão-de-obra, em particular na monda.

Alguns cientistas críticos da agricultura de conservação apontam para a sua divulgação como sendo uma panaceia para resolver todos os males e até para a influência de alguma religião na sua divulgação. Em particular, no Zimbabué, tem sido divulgada como “agricultura à maneira de Deus”, um movimento que nasceu de um agricultor recém-convertido ao cristianismo. Neste contexto, os críticos chamam-se a si próprios de heréticos, tal a sua sensação de desafio.

Mas, fugindo desse debate mais inflamado, surge a questão: então qual é a solução alternativa? Como é que se melhora a produtividade da agricultura em África? Como será esta enorme parte do planeta capaz de contribuir para sustentar uma população global crescente? Estará a comunidade científica a ouvir os agricultores e a trabalhar para eles, ou apenas para o sucesso dos autores em termos de publicações?

Se ainda não existem novas soluções magníficas para estas questões, pelo menos esta situação deixa-nos perante a possibilidade de abrir horizontes e ver para além daquilo que já conhecemos.

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