Tantas vezes se fala de transgénicos e organismos geneticamente modificados. Tantas vezes as discussões são enérgicas. Mas sabemos todos como se chega a um organismo transgénico e quais os objectivos de quem os produz? Esta semana divulgamos um artigo de uma equipa de 29 cientistas que desenvolveu uma variedade de milho capaz de acumular altos teores de carotenoides, incluindo vitamina A.

O desenvolvimento de uma nova variedade de milho capaz de acumular grandes quantidades de carotenoides segue um propósito de criar um alimento que melhore a nutrição de populações com carências em vitaminas, geralmente devidas a dietas muito dependentes de cereais e com deficiente acesso a frutas e vegetais frescos. Os investigadores consideram este um propósito humanitário e ressalvam que só após muitos testes é que esta variedade poderá ser consumida.

A biossíntese de carotenoides segue um percurso longo, que pode originar carotenos, licopeno, ou zeaxantina, compostos presentes em teores diferentes em todas as plantas, sem que ocorram todos ou em todos os órgãos. É necessário conhecer a via de biossíntese dos carotenoides para entender por que razão estes compostos aparecem num ou noutro órgão, dependendo da planta em questão.

Os investigadores partiram de uma variedade sul-africana de milho altamente produtiva mais com endosperma branco. Deste modo, qualquer alteração seria visível nos grãos das plantas modificadas. O processo de transformação começou com a técnica de bombardeamento de embriões de milho com diferentes transgenes carotenogénicos. Estes incluíram ainda tolerância a herbicidas, de forma a selecionar mais facilmente as sementes que efectivamente foram transformadas.

As plantas assim obtidas produziram grãos com uma variedade de colorações, representando as diferentes combinações de transgenes que as compunham. Uma das linhas transformadas continha dois dos genes responsáveis pelos primeiros passos da via dos carotenoides (Zmpsy1 e PacrtI). O endosperma deste milho acumulou níveis muito elevados de beta-caroteno e foi a partir deste genótipo que os investigadores continuaram o caminho de melhoramento e obtenção da nova variedade. Outras plantas obtidas continham uma combinação de genes que lhes permitiram acumular astaxantina, algo que não acontece naturalmente no milho.

O passo seguinte foi a avaliação do desempenho agronómico em estufa, onde se reproduziram diferentes ambientes de cultivo, de forma a avaliar a expressão dos genes em condições reais de produção. Ao longo de três anos de cultivo em estufa, foi também avaliada a acumulação de biomassa e a produtividade destas variedades. Comparadas com a variedade que lhes deu origem, não se verificaram diferenças significativas de produção, nem diferentes efeitos na resistência a seca ou em relação à adubação azotada.

Uma preocupação no desenvolvimento de uma variedade fortificada será ainda o seu efeito nas pragas e doenças. Tal exige ainda maior conhecimento dos efeitos da vitamina A e outros compostos nos insectos. Um primeiro resultado positivo foi uma aparente capacidade de repelir adultas de broca do milho, que preferiram as variedades não transformadas para realizar as suas posturas.

Após testes agronómicos, seguiram-se os ensaios de alimentação animal, que também visaram avaliar o seu efeito em modelos animais de doenças e assim saber como poderá esta variedade actuar em humanos.

Por agora, os investigadores consideram que a variedade poderia ser usada em aves, tanto para carne como para ovos, suínos e aquacultura, em particular, salmão.

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