A capacidade de manter nutrientes nos solos é essencial para a manutenção da fertilidade. A erosão e a lixiviação de nutrientes são problemas comuns, associados à agricultura, cujos efeitos e causas podem variar com o tipo de solo, o clima ou o sistema de agricultura e que ainda não são totalmente conhecidos.
Num artigo recente, publicado por investigadores espanhóis, vêm descritos os efeitos dos sistemas de mobilização, rotação e aplicação de azoto na estrutura do solo. Este estudo foi realizado num ensaio instalado em 1986, em vertisolos mediterrânicos, que podem ser considerados correspondentes à classificação portuguesa de “Barros”. Daí que se trate de um ensaio que parece bastante pertinente para a realidade do Sul de Portugal.
Neste ensaio, os investigadores testaram quatro rotações: trigo – grão-de-bico, trigo – fava, trigo – girassol, e trigo – pousio. Quanto aos sistemas de mobilização, foram testados a não-mobilização e um sistema de mobilização convencional, com recurso a lavoura e gradagem.
Ao fim de 27 anos, em 2013, foram realizadas as análises que deram origem ao artigo. As amostras de solo foram crivadas de forma a separar os agregados em classes de dimensão e depois cada classe de agregados foi analisada para determinar o conteúdo de carbono e azoto.
Os resultados trazem novos dados que permitem entender melhor a influência da mobilização na fertilidade do solo e também na sua estrutura.
Ao fim de dez anos de ensaio, começou-se a verificar uma diferença na densidade do solo entre sistemas de mobilização e também diferenças na estrutura, sendo que em regime de não-mobilização se verificou uma maior proporção de macro e micro-agregados. Uma vez que o solo onde se realizou o ensaio se encontrava muito degradado no início, devido a práticas muito agressivas como queima ou remoção de resíduos e mobilização muito intensa, o conteúdo de matéria orgânica aumentou nos dois tipos de mobilização, sendo que os investigadores pensam que ainda poderá levar mais tempo até que se atinja um nível estável. Também verificaram, comparando com análises realizadas anteriormente, que o teor de carbono varia com as condições climáticas de cada ano, o que está muito associado à tendência para fendilhamento e exposição de raízes e outras partes vivas ao ar.
Ainda assim, ao comparar os dois sistemas de mobilização, verificaram diferenças significativas entre os sistemas de mobilização, por exemplo em mobilização convencional o teor de carbono dos micro-agregados era 36% inferior ao observado em não-mobilização. Quanto ao teor de azoto, também verificaram que este era maior em não-mobilização, pois este se encontrava na matéria orgânica e não mineralizado.
Por fim, concluem que nem as rotações nem a adubação azotada foram significativas a gerar diferenças nos valores de carbono e azoto sequestrados. Os investigadores são mesmo peremptórios ao afirmar que “só existe uma prática agrícola eficaz, i.e., não-mobilização”.
Este estudo vem confirmar outros realizados noutros tipos de solos e climas, onde se tem vindo a verificar que as práticas agressivas de mobilização durante o século XX foram altamente danosas para os solos.
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