A situação de seca em que se encontra mais de metade do país ao iniciar a primavera, vai aumentando o recurso à rega. A pressão nas reservas de água, tanto subterrâneas como nas albufeiras vai sendo cada vez maior, mas não só a quantidade de água disponível conta, também a sua qualidade é importante. O aumento da evaporação em situações de seca e temperaturas elevadas pode levar a maior concentração de sais, com consequências nos solos e culturas regadas.

No perímetro de regadio do Alqueva, um aumento das áreas regadas e de culturas intensivas leva a preocupações acrescidas com a qualidade da água. De facto, a qualidade da água de rega é de maior importância para assegurar a viabilidade e sustentabilidade das culturas, sabendo-se que os sistemas de regadio estão geralmente sujeitos a riscos elevados de salinização e perda de fertilidade dos solos.

Uma equipa de investigadores de vários centros de investigação nacionais publicou recentemente um artigo onde é descrita a variação da qualidade da água ao longo do ano de 2017, caracterizado por uma situação de seca. Foram analisadas amostras a cada dois meses, avaliando a concentração de sais, pH e condutividade eléctrica da água. Também foram recolhidos dados meteorológicos de sete estações automáticas.

As amostras de água foram recolhidas em quatro locais diferentes, de modo a contemplar a variabilidade espacial: Álamos-captação, Alqueva-montante, Alqueva-Mourão e Lucefécit.  Note-se que a escolha dos dois últimos está relacionada com análises anteriores que destacavam a má qualidade da água nestes locais.

O tratamento estatístico dos dados permitiu observar a variabilidade espacial e temporal da qualidade da água. Os iões presentes na água revelaram-se originários da dissolução dos minerais presentes na geologia da região, despistando a suspeita de alguma influência da agricultura – fitofármacos e fertilizantes – ou outras actividades humanas na qualidade da água. No entanto, nos pontos de amostragem mais a montante, verificou-se maiores indícios da actividade humana.

Quanto à variabilidade ao longo do tempo, verificou-se um aumento de Maio a Novembro da concentração de Na+, Mg2+,Cl e SO42-. A seca severa do Verão de 2017 reflectiu-se num grande aumento das concentrações de iões nas amostragens de Novembro. Já os nitratos foram mais concentrados nos meses de Inverno, apontando para a drenagem destes compostos de fertilizantes com as chuvas.

De acordo com a legislação portuguesa, apenas os valores de concentração de cloreto e o pH estiveram acima dos parâmetros máximos recomendados. Quanto à condutividade eléctrica, não atingiu valores que desaconselhassem o uso da água para rega. No entanto, os resultados apontam para algum risco de redução da infiltração e formação de crostas nos solos de textura mais fina e pior estrutura. Os resultados do estudo levam os investigadores a recomendar a análise da água ao longo do ano e a atenção a práticas agrícolas.

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