A pandemia causada pelo vírus Sars-Cov2,  que levaria em Março de 2020 a um lockdown total do mundo, levou-nos a uma realidade experimental avassaladora de quase ficção cientifica.

O que sabemos?

O vírus é altamente contagioso por meio aéreo, com um potencial brutal de contágio em espaço fechado. O melhor meio de o evitar: lavar as mãos com sabão ou álcool em gel a 70%. Aos dias de hoje (Julho de 2020): Ainda não há vacina, mas a atividade económica mundial está a desconfinar.

As previsões económicas são avassaladoras, a economia portuguesa terá uma recessão de pelo menos dois dígitos em 2020. Os sectores mais afectados são os que implicavam deslocações e contacto social. O turismo a nível mundial terá uma perda de um bilião de dólares, Portugal está no top 10 dos mais afectados no turismo. Mas há boas noticias: o sector da saúde e o sector agricola e agro-alimentar mostraram-se essenciais. O combate à COVID19 demonstrou a fragilidade da nossa saúde perante os vírus, e a necessidades básicas de alimentação a terem de continuar a ser supridas.

A agricultura, mesmo com quebra de produtos não essenciais, exactamente por causa disso viu a sua importância ressalvada. Enquanto o mundo parava num frame de stand still, os agricultores mantiveram a sua produção e as grandes superfícies comerciais fizeram a provisão de bens alimentares essenciais. Bem haja agronomia e agricultura  e cadeia  de produção do agro-alimentar.

O que não queremos saber?

A pandemia da Gripe Espanhola que pôs fim à primeria grande guerra, teve um surto maior na segunda vaga, do que na primeira vaga de pneumónica. Isso poderá também ocorrer neste caso.

Um novo lockdown total traria ainda maiores custos, nova quebra de encomendas, nova acumulação de stocks. Uma cerca sanitária em Lisboa e/ou Reguengos, no primeiro caso trata-se da capital do país com 19 freguesias com 1 milhão de habitantes. No segundo caso, a pandemia abalou a pacatez da Alentejo, mesmo no meio de regiões da baixa densidade.

Que a vacina vai demorar a ser descoberta.

Que o vírus pode sofrer ainda mais mutações

O que não conseguimos saber?

Como isto vai acabar? Com o poder transformador das aulas, reuniões, formações, missas à distância, com efeitos de duradoura persistência?

O que nos diz a Teoria económica?

A transmissão é feita, porque cada agente não confinado, inconsciente do seu potencial como vector da doença, porque pensa que apenas os outros apanham a doença: há externalidade de contágio.

Há uma externalidade também económica de rendimento, o contágio apenas vai afectar o emprego dos outros, o  lay-off é duro, mas não chegará ao individuo em causa.

A globalização económica tinha vindo para ficar, mas de repente o mundo parou. Há também uma terceira externalidade: a externalidade da Globalização.

Como será este renascer a medio e longo prazo?

Tele-trabalho, semana de 4 dias, maior flexibilidade laboral, maior importância da saúde, do agro-alimentar, menor contacto presencial. Regras de distanciamento social vieram para ficar?

A ver vamos. O futuro é mais do que o presente de hoje, é o presente de amanhã com as lições de uma pandemia global avassaladora.

Miguel Rocha de Sousa, Economista, Universidade de Évora, Professor Auxiliar.

Nota: Miguel Rocha de Sousa fez parte do painel de 25 economistas auscultados pelo sr PM de Portugal em 14 de Abril de 2020 sobre o futuro económico no Pós-covid.

Para ler:

Thomas Pueyo

Projecto Renascer