A necessidade de reduzir a dependência do petróleo e os problemas ambientais de combustíveis fósseis tem vindo a potenciar o avanço do estudo de alternativas baseadas em produtos biológicos. No entanto, tem surgido a preocupação com a competição de culturas para energia com culturas para alimentação, em particular em países em desenvolvimento. Desta preocupação têm surgido diferentes alternativas, recorrendo a resíduos de cultura e outras fontes de biomassa que não ponham em risco o aprovisionamento alimentar.

A sustentabilidade de uma fonte de biomassa para produção de energia passa também pela sua disponibilidade local, facilidade de produção, resistência a seca e salinidade, para além da sua composição química, que influencia a quantidade de processos de transformação necessários até obter energia.

Com base nestes pressupostos, uma equipa de investigadoras do LNEG e da Universidade de Lisboa estudou o potencial de vários tipos de biomassa passíveis de ser produzidos em Portugal para transformação em energia. Foram testadas a polpa de alfarroba, borras de cerveja, uma microalga, palha de trigo e carolo de milho. Todos estes materiais são ricos em hidratos de carbono, sendo considerados bons substratos para fermentação para produção de hidrogénio.

Os substratos usados nestes ensaios, à excepção da microalga (Spirogyra sp.), foram obtidos de resíduos de produção de empresas nacionais. Após tratamentos prévios dos materiais, estes foram fermentados pela bactéria Clostridium butyricum. Segundo o artigo, os substratos para produção de hidrogénio através de fermentação devem cumprir com uma série de requisitos, onde tanto a quantidade de hidrogénio que podem produzir, como baixo consumo de energia para produção, baixo custo de produção, e reduzida produção de contaminantes ou poluentes durante a transformação. Segundo as autoras do estudo, se todos os materiais cumprem estes requisitos, a polpa de alfarroba é ainda substancialmente melhor que os restantes, já que é aquele produz mais hidrogénio e também o que necessita de menos passos de pré-tratamento, apenas uma extracção aquosa.

Segundo cálculos baseados na produção nacional, cerca de 19 mil toneladas de polpa de alfarroba potencialmente poderiam ser transformadas em Portugal para produção de mais de 100 toneladas de hidrogénio por ano, através de fermentação. Tal corresponde a 2,4 GWh, ou o equivalente a 77% da energia eléctrica produzida a partir de biomassa em Portugal em 2015.

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