Já aqui nos referimos aos impactos ambientais da aquacultura e à integração de diferentes níveis tróficos na sua mitigação. Esta semana divulgamos um estudo realizado na Universidade de Aveiro, onde se combinou o potencial de anelídeos na decomposição dos resíduos orgânicos presentes nos efluentes de aquacultura com a produção de plantas típicas de estuários, capazes de utilizar fosfatos e nitratos provenientes dessas mesmas águas.
Os investigadores propuseram-se testar novas espécies capazes de remediar os efluentes de uma aquacultura super-intensiva de produção de solha. Recorreram então a espécies comuns na região. A serradela (Hediste diversicolor), é um anelídeo usado comummente como isco de pesca, que ocorre ao longo dos estuários da Europa e América do Norte e que tem hábitos omnívoros. A gramata-branca (Halimione portulacoides), é um arbusto comum em sapais da costa atlântica da Europa, também comum na Ria de Aveiro.
Os investigadores instalaram um conjunto de tanques a jusante da exploração de aquacultura, para onde os efluentes eram bombeados. Estes efluentes eram então filtrados em tanques de areia, dos quais metade foi povoada com serradela previamente recolhida na Ria por pescadores locais. De seguida os efluentes filtrados eram conduzidos para tanques onde crescia a gramata-branca ou para outros de controlo, de modo a testar quatro tratamentos possíveis. A experiência decorreu de Maio a Outubro.
A gramata-branca também foi recolhida na Ria de Aveiro, sendo retiradas estacas para enraizamento que depois foram transplantadas para os tanques. O peso de cada planta foi registado, de forma a seguir a sua produção de biomassa.
As medições mensais ao longo da experiência foram revelando que se por um lado a presença de serradela nos tanques de filtragem não reduzia significativamente as partículas em suspensão em geral, por outro teve efeitos significativos na matéria orgânica total ao fim de 5 meses, reduzindo a sua percentagem em 70%.
Quanto ao efeito das plantas na redução do teor de azoto e fósforo dissolvidos, observaram uma redução de 65% de azoto nos tanques ligados aos filtros sem serradela e de 67% nos ligados aos filtros com serradela. Em comparação, quando apenas se realizou uma filtragem com areia, sem organismos, a redução do teor de azoto foi de 57%. Quanto ao teor em fósforo dissolvido na água, não foram encontradas diferenças significativas no final dos tratamentos sendo, no entanto, de destacar um aumento do teor devido à mineralização da matéria orgânica tratada ao longo do sistema. Ainda assim, este resultado verificou-se promissor em relação a outros trabalhos usando outras espécies de plantas de sapal.
Em conclusão, a combinação de filtros povoados por serradela seguidos de tanques com gramata-branca permitiu uma redução considerável dos nitratos nas águas tratadas. Um outro dado interessante relaciona-se com o facto de estas duas espécies serem não só locais como terem valor comercial, no caso da serradela, vendido para isco e no caso da gramata-branca, para consumo humano.
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