Tal como o engenheiro Miguel Fernandes escreveu no mês passado, o cenário de crescimento da população mundial pede alternativas ao modo como produzimos alimentos e exploramos os recursos. As tecnologias de produção animal há muito já se estenderam à produção de peixe e Portugal é não só um grande consumidor de peixe, mas também um produtor de soluções técnicas e científicas.
Uma das equipas que lideram a investigação em aquacultura na Europa encontra-se sediada no Centro de Ciências do Mar do Algarve. Entre outras contribuições, esta equipa foi pioneira no estudo da aquacultura de linguado.
Num trabalho recente, podemos encontrar uma revisão do estado do conhecimento, acerca da sustentabilidade da aquacultura. Desde o início deste século que a produção de peixes em aquacultura mais do que duplicou. No entanto, esta é maioritariamente dependente de rações, muitas delas produzidas a partir de espécies de peixes sem interesse para consumo humano, pescadas propositadamente para a indústria de rações. Ora desta forma está-se a criar um novo problema de exploração de recursos marinhos.
Como então solucionar este problema? Os investigadores têm-se dedicado a encontrar formas de aumentar a eficiência da aquacultura, bem como alternativas alimentares para a produção de peixe em cativeiro, sem que a qualidade seja comprometida. Sendo a dourada a principal espécie explorada no Sul da Europa, foi esta a escolhida para iniciar esta avaliação de soluções sustentáveis.
Presentemente são já conhecidos os efeitos de diferentes tipos de alimentação na produtividade e crescimento das douradas, mas há ainda um caminho a fazer no conhecimento dos efeitos na qualidade. Os primeiros estudos com painéis de provadores mostraram que a substituição de óleos de peixe por óleo de soja, tornaram o peixe cozinhado menos suculento, uma característica indesejável. Estes resultados levaram a experimentar misturas mais elaboradas de proteínas e óleos vegetais de diferentes origens cujos resultados têm sido mais satisfatórios, sendo que nalguns casos, os painéis de provadores chegam a preferir o sabor e consistência do peixe alimentado à base de alimentos de origem vegetal.
Também algumas experiências têm sido realizadas com vista a explorar dietas utilizando produtos originários de espécies de animais terrestres, excluindo ruminantes, os quais são proibidos na Europa desde as “vacas loucas”. Também nestes casos as características organolépticas se mostraram aceitáveis.
Para além do sabor e textura, têm sido também estudados os teores de ácidos gordos, sendo também já conhecidas formas de melhorar o teor de gorduras saudáveis. No entanto, outros nutrientes, como minerais e certas proteínas são ainda difíceis de controlar de modo a estarem presentes em dietas alimentares alternativas baseadas em produtos vegetais.
Por fim, a investigação tem ainda que lidar com os efeitos do stress na qualidade. A evolução contínua da investigação na área da aquacultura parece estar no bom caminho e o nosso país sempre na frente.
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