A cultura do arroz serve de base à alimentação de mais de metade da população mundial, no entanto, a necessária intensificação tem vindo a criar problemas ambientais, que a tornam insustentável. Com vista a superar estes problemas, têm sido propostas alternativas baseadas em duas alterações substanciais ao modo de cultivo.
A primeira alteração está na mobilização, onde muito se tem já escrito sobre resultados contraditórios no que respeita à compactação do solo e produtividade sendo, no entanto, indiscutível o efeito benéfico da não-mobilização na conservação do solo. A segunda alteração tem a ver com a irrigação da cultura e a necessidade de encontrar formas mais eficazes de gestão da água nos arrozais – surge aqui a cultura aeróbia do arroz, onde se preveem poupanças de mais de 50% em água.
O arrozal aeróbio não está alagado, sendo regado por aspersão. É assim uma alternativa extremamente interessante para a região mediterrânica. Tal como acontece com a não-mobilização, também aqui se têm encontrado resultados divergentes nos ensaios que vão sendo realizados em diferentes locais. No que respeita à produção de grão, existem relatos onde não existem grandes diferenças entre os dois sistemas de irrigação e outros onde até existe uma maior produção na rega por aspersão. Já quando se calcula a produtividade por unidade de água, os resultados são bastante interessantes, podendo chegar a aumentos até mais de 80% em ensaios realizados no clima tropical das Filipinas. Na Europa, ensaios realizados no norte de Itália relatam uma poupança de água de 50%.
Com vista a avaliar o potencial destes novos sistemas de cultivo do arroz, uma equipa ibérica realizou um estudo onde comparou mobilização vs não mobilização e alagamento vs rega por aspersão. Os ensaios foram realizados na bacia do Guadiana. Ao logo de três anos observaram os efeitos das combinações destas alternativas de gestão do solo e da água nas características do solo e na produtividade da cultura. No caso da combinação não-mobilização/rega por aspersão, o ensaio já estava a ser realizado havia sete anos, ao que acresceram os três de comparação, pelo que foi ainda possível observar resultados de mais longo-prazo desta prática de cultura.
Ao longo de três anos de observações das características físico-químicas do solo, apesar da típica variação anual, observou-se que no ensaio de longo-prazo sem mobilização e com rega por aspersão se registaram os maiores valores de carbono orgânico, ao passo que nos talhões com mobilização ocorreu decréscimo do teor de carbono orgânico, em ambas as modalidades de rega, sendo ainda maior na rega por aspersão, onde pode ocorrer uma mineralização mais rápida. Foram também encontradas diferenças na acidez, condutividade e teores de azoto e fósforo, bem como na estrutura (agregados) e compactação, sendo animadoras para as novas práticas de cultivo. O mesmo ocorrendo nas propriedades biológicas.
Quanto à avaliação da produtividade, em termos de quantidade produzida por hectare, no segundo ano de ensaios, 2012, o tratamento não mobilização/aspersão conduziu a 9805kg/ha, ao passo que mobilização/alagamento produziu 6556kg/ha. O recurso a rega por aspersão permitiu usar menos 80% de água do que em alagamento.
No ano seguinte, 2013, a produtividade do sistema não-mobilização/aspersão foi muito inferior, apesar de dentro da produtividade média observada em Espanha. Os investigadores consideraram que aqui poderão ter estado implicados os efeitos de demasiados anos de monocultura.
Os investigadores consideram que a combinação de não-mobilização com rega por aspersão permite uma melhoria das características do solo e poupanças muito significativas de água, mantendo a produtividade. Consideram ainda que esta alternativa se apresenta sustentável em condições mediterrânicas.
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