Ao longo do século XX foram desenvolvidos fertilizantes e técnicas de cultura capazes de aproveitar cada vez mais os nutrientes com o menor desperdício possível. No entanto, as perdas de nutrientes tanto adicionados, como os presentes naturalmente nos solos é um facto, com custos na gestão das explorações e no ambiente.
Mais recentemente, a investigação agronómica tem-se voltado para os processos naturais para entender e tentar mimetizar aquilo que a natureza produz, com expectativas de menores custos de produção e de menores desperdícios ambientais. Já aqui se falou de nódulos e micorrizas, das linhas de investigação que tentam introduzir em cereais a capacidade de reconhecer o rizóbio e do enorme potencial para o futuro.
Na linha de um aumento de eficiência baseada em processos existentes na natureza, um grupo de investigação indiano está a trabalhar com bactérias capazes de solubilizar fósforo, tornando-o acessível às plantas. Muitas espécies comuns de bactérias são capazes de solubilizar o fósforo imobilizado em diversas formas. Na realidade, este é o processo natural de decomposição da matéria orgânica no solo, em que as bactérias digerem o fósforo orgânico e o libertam sob a forma mineral, solúvel. E é este processo que se tenta retardar, especialmente em climas quentes, pois a redução de matéria orgânica não só tem efeitos na estrutura do solo como também, não sendo um processo regulado, leva geralmente à perda dos nutrientes por lixiviação.
Outra forma insolúvel de fósforo é aquele que se encontra em forma mineral, em fosfatos inorgânicos. A capacidade de controlar a solubilização destes fosfatos tem um enorme interesse, pois não implica destruição de matéria orgânica e é uma forma muito comum. Na rizosfera dos arrozais existem bactérias capazes de solubilizar fosfatos inorgânicos e de os tornar disponíveis para as plantas de arroz. Este processo está ligado às características específicas dos solos alagados, em especial o pH baixo.
O grande desafio para os investigadores tem então sido o controlo da libertação de fósforo para o meio, de forma a não ocorrerem perdas. Entre as várias espécies de bactérias capazes de solubilizar, os estudos têm mostrado maior interesse nas do género Pseudomonas. Os ensaios centram-se em encontrar o meio ideal para cultivar as bactérias, que depois permita inoculá-las no solo, de mesma forma que se processaria com a aplicação de um fertilizante. O meio não só terá de fornecer suporte físico para as bactérias, como o pH ideal para controlar a sua actividade.
Entre os meios utilizados estão compostos com base em lenhina e compostos de nanopolímeros e ácidos orgânicos em argila. Estes últimos levantam uma questão em relação à sua compatibilidade com a maioria das culturas, pois os investigadores relatam que o ácido orgânico com maior interesse é o oxálico, que impede a proliferação de muitas plantas, sendo mesmo a fonte do sucesso da erva-pata (Oxalis pes-caprae) enquanto infestante de culturas.
Tal como outras linhas de investigação existe aqui potencial e também questões, incluindo o facto de o fósforo inorgânico ser um recurso não renovável, ou de se exigir uma acidificação do meio para as bactérias serem eficazes. Talvez apenas se venha a revelar útil em arroz, no entanto, sendo esta uma cultura com tanta importância no mundo, o impacto desta investigação não será pequeno.
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