Como poderá a anatomia de uma flor ajudar na proliferação de insectos auxiliares? Já nos referimos anteriormente à importância da manutenção da flora espontânea do olival, em especial quando em produção integrada, ou biológica. Mas nem todas as plantas têm o mesmo potencial para ajudar a manter espécies de auxiliares durante todo o seu ciclo de vida, já que tanto os parasitoides como os predadores não se alimentam apenas de outros insectos, sendo o pólen e o néctar importantes também para os adultos, nomeadamente este último como fonte de energia.

Especialistas em entomologia e em botânica de Portugal e Espanha foram então observar quais as espécies de plantas espontâneas mais úteis na manutenção de uma população de insectos auxiliares no combate à traça da oliveira. A sua abordagem baseou-se na observação da arquitectura das flores e medição dos nectários e outras estruturas das flores e também das armaduras bucais, cabeça e tórax dos insectos, de modo a aferir quais os insectos capazes de entrar e se alimentar do néctar e do pólen de cada espécie botânica espontânea.

Foram estudados cinco dos principais inimigos da traça da oliveira, quatro vespas parasitoides Chelonus elaeaphilus, Apanteles xanthostigma, Ageniaspis fuscicollis e Elasmus flabellatus) e o principal predador, a crisopa (Chrysoperla carnea). Foram também realizadas medições em 21 espécies de plantas com flor espontâneas nos olivais de Trás-os-Montes e Beira Interior. Das medições realizadas, os investigadores encontraram 15 espécies botânicas onde todos os auxiliares tinham capacidade de se alimentar, sendo também importante notar que a traça –da-azeitona não tem capacidade de se alimentar de cinco outras espécies (tripa-de-ovelha, leituga-branca, tágueda, serralha-espinhosa e rosmaninho), o que é também importante.

As plantas da família das Apiáceas, como reinolas (Conopodium majus), erva-coentrinha, ou funcho bravo, como têm os nectários expostos, são acessíveis a todas as espécies, o mesmo acontece com o espargo-bravo-menor (Aspargus acutifolius), a bolsa-de-pastor, a esparguta (Spergula arvensis), a malva-redonda e a milfurada.

Para além destas plantas, também a soagem, o saramago, a calaminta, a madressilva, a ansarina e o nariz de zorra têm flores cuja arquitectura permite a entrada e alimentação de todas as espécies.

Após as medições, foi também notado que a viscosidade do néctar pode também ser um factor que discrimina o acesso à alimentação de lepidópteros como a traça-da-oliveira, pois estes têm dificuldade em beber fluidos muito viscosos.

Este é um estudo preliminar, onde se avaliaram condições teóricas de alimentação, sendo um primeiro passo para um planeamento e gestão da flora espontânea e insectos auxiliares.

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