A bacia do Guadiana é uma das regiões de Portugal onde os sistemas agrícolas poderão ser vulneráveis a alterações climáticas. Os modelos de previsão de alterações climáticas que têm vindo a ser desenvolvidos nos últimos anos preveem aumentos da temperatura média do ar em Portugal, acompanhados de uma tendência para cada vez maior instabilidade da precipitação e aridez. Neste cenário, é importante estudar e tentar precaver os impactos destas alterações na agricultura. Por outro lado, o estudo de sistemas de sequeiro torna-se cada vez mais pertinente, uma vez que a maioria da produção agrícola mundial depende de sistemas de sequeiro. É perante esta realidade que em Portugal se desenvolveu um sistema de prevenção e gestão da seca capaz de avaliar os seus impactos em diferentes contextos.
Na bacia do Guadiana o sequeiro conta com áreas significativas de trigo, vinha, olival e amendoal. Mas a maior parte da área está ocupada por pastagens, sendo que fenómenos climáticos extremos põem em risco não só as culturas, mas também os animais criados em extensivo. Com base em modelos climáticos globais, investigadores da Faculdade de Engenharia do Porto e da Universidade de Évora desenvolveram cinco cenários de alterações climáticas para o futuro, onde foram consideradas alterações na temperatura e na precipitação. Em todos os cenários se prevê uma redução da precipitação anual e também um aumento das temperaturas mínimas mais rápido do que das máximas, o que poderá ser importante a ter em conta quando se analisa um aumento da temperatura média.
Os impactos destas alterações nas culturas de sequeiro da bacia do Guadiana foram estimados para dois períodos no tempo: até 2040 e de 2041 a 2070. Sendo que os cinco cenários propostos de alterações climáticas geraram impactos semelhantes na alteração estimada da produtividade das culturas consideradas pelos investigadores. Os impactos estimados diferem entre culturas, partilhando todas elas uma tendência de redução da produtividade, sendo que no futuro mais distante se prevê na maioria das culturas estudadas perdas de produção duas vezes superiores às perdas no futuro próximo.
Analisando os impactos em cada cultura, os investigadores verificaram que as leguminosas são as culturas anuais menos vulneráveis às alterações climáticas, enquanto as mais vulneráveis serão o girassol, com perdas entre os 6% e os 9,8% até 2040, podendo a redução de produtividade chegar a 18,5% após 2041, e o trigo de outono/inverno, cujas perdas máximas estimadas poderão chegar a mais de 13%.
Já nas culturas perenes consideradas, será o amendoal aquela que maior impacto poderá sofrer, podendo as perdas de produção chegar a quase 14% por ano nos próximos vinte anos e mais de 27% no período seguinte. Já o caso da vinha é menos drástico, com perdas de produção no pior dos cenários a atingir 5,4% após 2041. O caso do olival de sequeiro encontra-se em valores intermédios.
Por fim, nos modelos estimados para culturas para alimentação de animais, são as pastagens naturais que poderão sofrer piores efeitos das alterações climáticas, entre 5,5% e 11%, no futuro mais distante.
Os autores deste estudo destacam a importância das práticas culturais na mitigação dos efeitos mais adversos, desde gestão do solo, de pragas e doenças, a operações de poda ou de fertilização das culturas, que serão onde os produtores terão de agir e que poderão alterar as previsões elaboradas com base apenas em dados climáticos.
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