Um problema comum nos sistemas de produção de aves é o comportamento de debicar, que pode ter consequências graves, podendo até levar à morte. As razões que levam um animal a bicar outro não estão ainda completamente esclarecidas, no entanto, as alterações na legislação europeia no sentido tendencial de eliminar a produção de aves em gaiolas e a prática de corte de bicos, exigem maiores conhecimentos das causas dos comportamentos indesejados e de técnicas de maneio que evitem a sua ocorrência.
Uma vez que a produção de patos não tem a mesma importância económica que a produção de galinhas, existe menos pressão ou interesse em desenvolver investigação quanto ao comportamento destes animais. Grande parte da investigação nesta área é realizada na China ou em França, países com tradição de consumo de carne de pato. Num trabalho desenvolvido em França, num consórcio com o INRA e duas empresas, foram ensaiadas estratégias de reduzir comportamentos indesejados através do controlo da alimentação de patos desde o ovo.
O ponto de partida da investigação é a constatação, em estudos com seres humanos e com ratos, que a ingestão de ácidos gordos polinsaturados de cadeia longa do tipo ómega-3 tem um efeito positivo nas funções cerebrais e na redução da ansiedade e depressão. Assim, os investigadores testaram a possibilidade de estes ácidos gordos terem o mesmo efeito na redução de comportamentos indesejados em patos.
Neste estudo foram realizados dois tratamentos, onde num as patas foram alimentadas com uma dieta rica em ómega-3 (DHA e ácido linolénico de óleo de linhaça e microalgas) e noutro grupo (de controlo) se suplementavam com óleo de soja, rico em ómega-6. As proles destes dois grupos de fêmeas foram depois divididas em dois grupos cada uma onde num deles os patinhos tinham uma dieta enriquecida com ácido linolénico e DHA e noutro grupo, a dieta era enriquecida apenas com ácido linolénico. Deste modo, os investigadores ficaram com quatro grupos diferentes.
Com uma semana de idade, foram realizados testes de comportamento, de forma a avaliar os efeitos das dietas e ao longo do tempo os animais foram observados em termos de crescimento, sociabilização, crescimento das penas e comportamento de debicar. O grupo cujas mães tinham sido alimentadas com a dieta rica em ómega-3 registou sempre maior peso corporal, menor índice de conversão alimentar, menor hiperactividade e menor stress do que os animais cujas mães tinham sido alimentadas com ómega-6. Neste primeiro grupo houve ainda uma redução geral dos comportamentos de bicar ou arrancar penas. O enriquecimento das dietas dos jovens patos permitiu ainda obter animais mais bem conformados em termos de músculos e ossos.
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