Se o aumento de produção agrícola é uma necessidade, também a necessidade de maior produtividade e racionalidade no uso de recursos como o solo tem levado a abandonar terrenos menos produtivos. Esta realidade muitas vezes cria problemas, como erosão, crescimento de matos ou proliferação de espécies invasoras, mas também pode ser uma oportunidade de restauro de biodiversidade e criação de manchas silvestres, que podem albergar espécies auxiliares ou servir de barreiras entre manchas de monocultura e impedir a proliferação de pragas e doenças.
O restauro de terrenos abandonados para recuperação de ecossistemas próximos dos anteriores ao uso agrícola exige intervenção técnica. Mas não só de maquinaria e tecnologia dependem as técnicas a usar, os animais frugívoros são cruciais na dispersão de sementes e recolonização por espécies lenhosas, o que torna importante contar com eles no planeamento do restauro dos terrenos.
Um aspecto a ter em conta no sucesso da recolonização é o uso de plantas produtoras de frutos que possam atrair os animais que, ao se alimentarem dos frutos, dispersam as sementes, repovoando e permitindo que outras espécies se instalem e cresçam. O desenho das plantações destas espécies fruteiras silvestres tem, no entanto, muito que se lhe diga, podendo ser realizado por pequenas “ilhas” onde se aglomera a plantação, em linhas, ou aleatoriamente. Determinar o padrão de plantação certo tem influência nos custos de plantação, mas também no padrão de visita pelos frugívoros e no padrão de dispersão que, por sua vez, também influencia o tempo de recolonização. Para tal será necessário conhecer as características dos terrenos a restaurar, dos animais que lá ocorrem e das espécies que se deseja dispersar, num trabalho complexo e multidisciplinar de recolha de dados e construção de modelos de simulação.
Um estudo na Reserva Mundial de Biosfera de Doñana, em Espanha, que contou com um investigador do ISA, desenvolveu modelos de simulação para o repovoamento de terrenos agrícolas com catapereiros (Pyrus bourgaeana), uma espécie de pereira silvestre que ocorre naturalmente na Península Ibérica e Marrocos. Os animais que foram tidos em conta na dispersão foram os texugos e as raposas. Nos terrenos em questão, havia ocorrido uma tentativa anterior de repovoamento, com plantação intensiva catapereiros e espécies arbustivas, que havia sido mal-sucedida, com dificuldade das plantas em sobreviver aos longos Verões, quentes e secos, da região.
Os modelos de simulação tiveram em conta um grande número de variáveis, das quais se destacam as relacionadas com o tempo de retenção das sementes pelos animais após se alimentarem e os seus movimentos. Foram testados três factores principais: número de árvores plantadas, distribuição das árvores e preferência dos animais por árvores agregadas ou solitárias.
As simulações realizadas apontaram para uma melhor dispersão de sementes se as árvores forem plantadas com uma distribuição regular no terreno. No entanto, deixam uma série de considerações sobre os custos de instalação das árvores e as diferenças de gestão entre áreas protegidas e não protegidas.
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