Nos países desenvolvidos a segurança alimentar e o controlo daquilo que se consome é uma preocupação de muitos consumidores. O afastamento em relação à fase de produção leva a muito desconhecimento da parte de quem consome, ao passo que o número de intermediários nas cadeias de produção e distribuição podem de facto complicar o controlo de qualidade por parte de quem produz.
Nos anos 90, a doença das vacas loucas foi o motor para uma enorme transformação no controlo de produtos de origem animal. Desde 2001 que o projecto IDEA de identificação electrónica animal visou desenvolver métodos de identificação por radiofrequência (RFID) para animais de produção, tendo apoio técnico e científico da parte de investigadores da Universidade de Évora.
Também do ponto de vista empresarial, no nosso país, têm sido desenvolvidos produtos interessantes como balanças e mangas capazes de ler a informação dos chips instalados nos transponders dos animais que nelas passem, registando os seus dados biométricos e produtivos e facilitando a gestão das explorações.
Já mais recentemente, com o desenvolvimento de conceitos como Internet of Things – a ligação de objectos entre si através da Internet – tem-se acesso a tecnologia que pode contribuir para o controlo da qualidade alimentar desde o animal na exploração pecuária até à embalagem de carne no supermercado.
Numa revisão do estado da arte publicada este ano encontramos as ferramentas tecnológicas que estão a ser desenvolvidas e que poderão vir a ser usadas nos próximos tempos. A ligação de coisas entre si baseia-se em tecnologias como a RFID, redes sem fios, cloud computing e ferramentas de análise de dados avançadas. Ao juntar toda esta oferta tecnológica é possível desenvolver produtos e soluções para as várias fases da cadeia de produção. Para além da agricultura e pecuária de precisão ao nível da exploração, a quantidade de dados gerados, apoiada por grande capacidade de armazenamento, permite também agir nas cadeias de distribuição e nos mercados. Assim, a tecnologia disponível hoje em dia permite seguir um produto desde o produtor até ao mercado e também usar sensores para controlar o seu acondicionamento e frescura durante o transporte e armazenamento.
Já na fase de comercialização, enquanto consumidores conhecemos bem a possibilidade de usar estas tecnologias para cartões de fidelização que oferecem promoções cada vez mais personalizadas. Mas os retalhistas têm ao seu dispor a capacidade de controlar a disponibilidade dos produtos e os stocks em tempo real e existe investigação com vista a permitir adaptar automaticamente os preços de perecíveis à sua frescura, algo ainda difícil de pôr em prática, mas com enorme interesse.
Resumindo, existe tecnologia capaz de controlar produtos alimentares desde o produtor ao consumidor, facilitar a rastreabilidade e a segurança alimentar e ainda ajudar no desenvolvimento de mercados mais inteligentes. Estamos agora na fase de desenvolvimento e transformação de ideias em produtos e serviços.
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