O castanheiro foi historicamente uma cultura de grande importância na região do Mediterrâneo, tanto para consumo das castanhas como para exploração da madeira. No entanto, durante o século XX, políticas de exploração agrícola aliadas a duas doenças – tinta e cancro – reduziram drasticamente a área cultivada e a sua produtividade por hectare. No presente, a área de cultura de castanheiro é metade da área potencial desta cultura.

Se para o cancro do castanheiro existem estratégias de controlo biológico bem-sucedidas, para a doença da tinta, ainda não existem formas eficazes de combate. Desta forma, surgiu em 2006 um projecto que reúne vários centros de investigação portugueses e internacionais, com vista a introduzir genes de resistência a Phytophtora, O agente causal da doença da tinta do castanheiro.

O programa português de melhoramento do castanheiro baseia-se em cruzamentos entre a espécie europeia de castanheiro (C. sativa) e duas espécies asiáticas (C. crenata e C. mollissima), de forma a introduzir genes de resistência, presentes nas duas espécies asiáticas. O grau de resistência das plantas usadas para hibridação foi avaliado numa primeira fase, as plantas com melhores características foram então propagadas em larga escala. Foram também sequenciados os transcriptomas destas plantas, com vista a identificar os genes envolvidos na resistência à doença da tinta e os mecanismos pelos quais se processa a resistência.

Outra abordagem deste programa de melhoramento envolve a caracterização dos castanheiros híbridos em termos de resistência à doença da tinta e ao cancro do castanheiro. Para a primeira doença, os testes foram realizados em raízes inoculadas com o organismo patogénico e foi estudado o tempo de progressão das lesões nos tecidos, bem como a sobrevivência das plantas. Foram isolados e propagados os sete genótipos mais resistentes.

Quando as plantas híbridas começaram a lenhificar, foram realizados os testes de resistência ao cancro do castanheiro. Destes testes saiu um clone com resistência a ambas a as doenças quando inoculado simultaneamente.

A análise comparativa das proteínas transcritas tanto sem doença, como quando sob doença (transcriptómica) permitiu isolar marcadores moleculares para futuros estudos de melhoramento da resistência, tanto na equipa do programa de melhoramento português, como na congénere americana, com a qual colaboram.

Os híbridos mais resistentes têm vindo a ser micropropagados em larga escala e testados em diferentes condições de campo, de modo a verificar a sua adaptação a diferentes condições edafo-climáticas e também à sua capacidade para serem utilizados como porta-enxerto para as variedades de fruto produzidas em Portugal.

Os investigadores contam lançar no mercado até 2021 variedades de comprovada resistência e capacidade produtiva, de forma a relançar a produção de castanha no nosso país e na Europa. Contam também produzir um catálogo com a descrição dos melhores clones para cada situação, com caracterização molecular e linhagem assegurada.

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