As regiões agrícolas de clima mediterrâneo enfrentam o desafio de produzir num cenário de cada vez maior instabilidade, onde se prevê períodos de escassez de água cada vez mais frequentes e uma tendência para que certas áreas se tornem cada vez mais semiáridas. Face aos cenários de escassez de água, a introdução de novas culturas comerciais, menos dependentes da irrigação, pode ser uma solução economicamente interessante para novos sistemas de produção.

A rega deficitária tem assumido uma grande importância nos últimos anos, em culturas como a vinha e o olival. Esta realidade leva a explorar a possibilidade de importar novas culturas para a Península Ibérica, capazes de ser produtivas e competitivas em sistemas com rega deficitária controlada.

Um estudo exploratório, realizado por investigadores espanhóis, investigou a possibilidade de introduzir quatro novas culturas de fruteiras que, apesar de serem exploradas comercialmente noutras partes do mundo, são marginais nas nossas regiões. As culturas estudadas foram a nespereira, o pistácio, a romãzeira e a anáfega (também conhecida por jujubeira ou acufeifa-maior). A novidade deste estudo foi analisar as respostas destas culturas a situações de rega deficitária, em termos de produtividade, qualidade dos frutos e metabolitos.

Da revisão de literatura realizada observaram que das quatro culturas, o pistácio é aquela que melhor resiste a situações de seca, em particular devido ao seu sistema radicular muito extenso e capacidade de regular a temperatura e a transpiração foliar. De facto, esta cultura é produzida geralmente em regiões semiáridas e em sistemas de sequeiro. Porém, a rega durante a formação dos frutos pode contribuir para um maior teor de compostos interessantes como o ácido oleico, para além do aumento do calibre dos frutos.

A romãzeira e a anáfega também se caracterizam por uma grande capacidade de resistir a situações de seca severa durante a época de produção, com mecanismos de controlo da evaporação foliar e osmorregulação. Estas culturas beneficiam da rega, mesmo em condições abaixo da taxa de evapotranspiração, com concentração de compostos, como os açúcares, que melhoram a qualidade e sabor dos frutos. A rega tem grande impacto ainda no desempenho das culturas em pós-colheita e na sua conservação.

Já a nespereira é uma cultura com um ciclo peculiar, comparando com outras pomóideas, que se adapta a situações de escassez de água no Verão, já que entra em floração no Outono e os seus frutos amadurecem no início da Primavera, no que se considera um mecanismo de fuga ao stress hídrico. No entanto, os investigadores não encontraram até agora nenhum estudo sobre o efeito da rega na qualidade dos frutos, em termos de composição química.

Para estas culturas ainda há muito por estudar. Em particular, na definição das dotações de rega e duração dos tratamentos.

Os investigadores defendem, no entanto, que os agricultores devem receber algum tipo de incentivo para adoptar estas novas culturas nestas condições. Em particular, devem ser recompensados pelo uso sustentável dos recursos hídricos, pelo contributo para a biodiversidade dentro dos sistemas agrícolas, pelo risco de redução da produção e pela qualidade dos frutos, mais ricos em compostos bioactivos. Para tal, defendem ainda a criação de uma marca (“hydroSOS”) capaz de alertar os consumidores para as particularidades destes produtos e seu impacto ambiental.

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