O arroz é uma das plantas mais estudadas e uma das culturas mais melhoradas. Foi o símbolo da revolução verde nos anos 60, com benefícios na vida de milhões, mas também o símbolo da dependência de sementes melhoradas e dos perigos da monocultura em muitos países tropicais.

Se o melhoramento de plantas do século XX permitiu aumentar a produtividade das culturas, com significativas melhorias de qualidade de vida das populações, hoje em dia deparamo-nos com um novo desafio, na forma de danos ambientais. A necessidade de enfrentar as alterações climáticas exige reduzir os impactos da agricultura, continuando a aumentar a produtividade. Assim, surge um novo desafio no melhoramento do arroz.

Existem mais de 40.000 variedades de arroz, cultivadas em todo o mundo e este é o principal alimento de metade da população mundial. Dentro do género Oryza existem ainda 22 espécies selvagens e duas cultivadas: O. sativa, com duas subespécies – indica, de bago longo e japonica, de bago curto – e O. glaberrima, cultivado em algumas regiões da África Ocidental. Toda esta diversidade, aliada a um genoma pequeno e ao contínuo aumento da procura deste alimento, tornam o melhoramento do arroz uma das áreas com maior desenvolvimento na biotecnologia agrícola.

Numa revisão de literatura publicada o mês passado, encontramos uma linha do desenvolvimento da investigação em arroz, desde 1960, com a revolução verde, até aos avanços recentes de genómica e edição de genes (com o sistema CRISPR/Cas9). Mas aponta também para o futuro do melhoramento, com vista a enfrentar alterações climáticas e, neste ponto, as espécies não cultivadas são de grande interesse, incluindo o próprio arroz-vermelho, infestante.

O arroz infestante, exactamente a mesma espécie do cultivado, tem características como resistência a stress abiótico e doenças, produção de semente e a doenças em si, o porte mais alto das plantas não cultivadas permite resistir melhor. O conhecimento da genética do arroz-vermelho permitiu já conhecer 14 genes de resistência a doenças, tolerância a salinidade e ao frio.

Para além do arroz, o estudo cita ainda culturas que até recentemente eram marginais, como a quinoa, mas cujo melhoramento tem sido rápido, com aumento de importância. Estas culturas, em geral cereais e amarantáceas, têm também o potencial de fornecer genes para o melhoramento do arroz.

Mas, para além do melhoramento em si, o fim de atingir uma produção sustentável tem de estar presente e, a par com a genómica, os autores da revisão apontam para que se tenha em vista outras estratégias que em conjunto contribuam para a sustentabilidade. Daqui apontam tecnologias de precisão, como sensores, smart farming, agricultura sustentável e o recurso a políticas globais de cooperação internacional.

 

Saiba mais aqui.