Em climas mediterrânicos e semiáridos a água é um bem escasso e passível de limitar a produção vegetal. Para os melhoradores surge o dilema entre aumentar a eficiência do uso da água pelas plantas e como o fazer sem comprometer a capacidade de arrefecimento através da transpiração.

Uma cultura melhorada adaptada a climas quentes e secos deve ser capaz de abrir os estomas quando as temperaturas são mais elevadas, de modo a minimizar o risco de stress térmico. No entanto, quando o teor de água no solo é reduzido, as plantas reduzem a abertura dos estomas de forma a que não se rompa o contínuo do xilema, exigindo ainda do trabalho de melhoramento que as variedades que se desenvolvam sejam tolerantes a altas temperaturas e choques térmicos.

O conhecimento das estratégias de gestão do consumo de água pelas plantas permite entender as melhores formas de obter cultivares mais eficientes. A regulação do uso de água pode ocorrer nas duas extremidades das plantas: ao nível da sensibilidade dos estomas ao deficit hídrico (o que varia não só de variedade para variedade, como também pode ser condicionado pela forma como as plantas são cultivadas, se em vaso, em estufa, ao ar livre); ou ao nível das raízes, algo que espécies perenes, como as fruteiras, tradicionalmente se regula através do uso de porta-enxertos mais resistentes à escassez de água (no entanto, verifica-se que existem interacções complexas entre enxerto e porta-enxerto ao nível molecular, que ainda não se conhecem bem).

Como será então a cultura ideal para um clima semiárido? Terá de ser capaz de extrair eficientemente a água do solo, o que exige um sistema radicular robusto, mas também de cobrir de tal forma o espaço entre plantas de forma a evitar perda de água por evaporação do solo ou escorrimento. Terá de ser capaz de regular a abertura dos estomas de forma a poder arrefecer as folhas e realizar fotossíntese sem desperdício de água, ou seja, com baixa transpiração por unidade de carbono absorvida aquando da abertura dos estomas. O melhoramento vegetal e as práticas agronómicas terão também de ter em conta a conformação das plantas e o desenvolvimento equilibrado dos copados, de forma a que este seja produtivo, capaz de cobrir o solo, mas não com crescimentos demasiado exuberantes em épocas de abundância de água, de forma a não ser prejudicado em fases de seca. E por fim, resistência ao calor, tanto celular, como através da conformação da planta e sua orientação em relação ao sol.

São muitos componentes a funcionar ao mesmo tempo. Como lá chegar? Ainda por cima, existe ainda a rega a ter em conta. Em culturas irrigadas, o comportamento das plantas é alterado.

Segundo especialistas do ISA e do ITQB, a investigação presente e futura tem de ser orientada para pontos concretos como um maior conhecimento da resistência do xilema à cavitação, de modo a evitar o colapso em temperaturas elevadas e baixo teor de água do solo e também entender melhor os limites de temperatura que cada espécie pode suportar. Estes investigadores sugerem que os estudos futuros de stress sejam acompanhados da monitorização das alterações moleculares das plantas, de forma a entender e detectar fenómenos que podem não ser visíveis durante a observação das plantas. Para um melhor desenvolvimento de variedades resistentes a seca e altas temperaturas, a biotecnologia pode contribuir com a identificação de marcadores moleculares para danos provocados por stress que não sejam visíveis.

 

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