Como poderemos conciliar a sustentabilidade ambiental e económica com o desafio de alimentar milhões? E como manter a capacidade de fornecer alimentos que continuem a cumprir com os padrões de qualidade a que os europeus se têm habituado? Este é um dos desafios para a PAC nos próximos anos, juntamente com o combate às alterações climáticas e a manutenção ou aumento da competitividade e rendimento das explorações agrícolas europeias.
O desenvolvimento de um ecossistema agrícola sustentável e ao mesmo tempo altamente produtivo foi durante anos considerado utópico, considerando-se que a agricultura seria sempre carente e poluidora (na visão de alguns ambientalistas desinformados). Em contraponto a esta visão, foi surgindo cada vez mais informação e sobre sustentabilidade e agricultura de conservação. Segundo a Federação Europeia de Agricultura de Conservação (ECAF), a adesão a estas técnicas permite a intensificação de produção sem destruir o potencial das explorações para o futuro.
A agricultura de conservação assenta em três pilares: minimizar o impacto no solo, diversificar a cobertura vegetal recorrendo a rotações e proteger o solo com culturas e resíduos. Esta abordagem à agricultura tem vindo a exigir uma mudança não só nos sistemas agrícolas, mas também nas mentalidades. Em particular, os relatores do documento “Making Sustainable Agriculture Real in CAP 2020” referem que na Europa será necessário mudar de uma abordagem intervencionista, onde a intervenção humana é essencial desde a preparação do solo por mobilização, à aplicação de pesticidas e fertilizantes, para uma abordagem ao ecossistema, onde a produtividade é conseguida através da conservação dos solos e do ambiente em redor, o que poderá ainda proporcionar uma série de serviços ambientais ligados à agricultura.
A mudança de paradigma que os advogados da agricultura de conservação sugerem à União Europeia permite segundo estes especialistas aumentar a produtividade biológica e económica ao aumentar a produção vegetal com menores recursos externos à exploração. Ao começar por proteger a saúde dos solos através da não-mobilização, fornece-se ainda um serviço à sociedade, reduzindo 60 a 70% o consumo de combustível, podendo cortar até 50% no uso de agro-químicos e maquinaria agrícola e um sequestro de carbono que poderá atingir por ano os 700 kg por hectare. Para além da redução das emissões de CO2, também as emissões de metano e nitritos são reduzidas.
Para além da produtividade agrícola, ligada ao primeiro pilar da PAC, também no segundo pilar, existem benefícios a tirar da agricultura de conservação. Cada vez mais um ecossistema agrícola sustentável permitirá fornecer bens públicos, como água potável, biodiversidade e combate às alterações climáticas.
No caso de Portugal, como já tinha sido referido há algumas semanas, estamos entre os países europeus onde mais se pratica agricultura de conservação. O facto de se poder reduzir custos de produção, em particular com combustíveis e mão-de-obra é bastante interessante para os agricultores portugueses. No entanto, os relatores do documento referido acima registaram que existe ainda pouca consciencialização dos benefícios económicos que podem vir associados.
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