O prémio Nobel da economia de 2018 foi atribuído conjuntamente aos Professores William Nordhaus (Universidade de Yale, E.U.A.) e Paul Romer (Universidade de Nova Iorque, NYU, E.U.A.), pelas suas contribuições para o crescimento de longo prazo, respectivamente pela abordagem da natureza e pela abordagem do conhecimento/ideias.
William Nordhaus para além de ter fundado uma importante corrente de literatura sobre a importância dos ciclos eleitorais na economia, que a Academia Sueca não cita, desenvolveu e foi fundador da abordagem integrada da natureza e da economia. No fundo tratou-se de reconhecer que o ambiente é também um bem económico, que a poluição é uma externalidade, para a qual tem de ser criada um mercado.
Mas, mais do que isso, nesta abordagem das externalidades, cedo reconhecida pelo economista Arthur Cecil Pigou nos anos 1920 na Universidade de Cambridge, Nordhaus começou por quantificar efectivamente, com um modelo global de equilíbrio geral, todos os impactos ambientais da emissão de gases poluentes no globo. O modelo, para além de permitir uma abordagem global de quantificação dos impactos da emissão de gases, combina as diferentes contribuições geográficas, físicas, químicas e económicas transdisciplinares.
O modelo de Nordhaus permite assim também definir políticas económicas ambientais globais, e quantificá-las exactamente. Nomeadamente, os pontos de não retorno, a partir dos quais a subida de temperatura geradas pela emissão de gases de estufa levará a ecocídio (termo meu), no sentido do suicídio ecológico da terra.
Qual o papel e a importância desta contribuição e sua relevância para a agricultura?
De facto é enorme, pois reconhece a obrigatoriedade de definição de metas viáveis e alcançáveis para o sequestro de carbono. A atividade agrícola é das mais importantes na obtenção destas metas. A agricultura de conservação e verdadeiramente sustentável tem um impacte crucial, pois para além de servir de exemplo ao sector industrial e terciário, é um dos pontos-chave de início da cadeia de valor económico.
Assim, agricultores deste mundo, agrónomos, mais um importante passo dado no reconhecimento da importância do desenvolvimento sustentável e, de igual modo, do sector primário.
De igual modo, a contribuição de Romer é muito importante pois na sua dissertação de doutoramento foi dos primeiros a incluir a economia das ideias (formalmente com o conhecimento, a inovação), nos modelos de crescimento económico. Estes novos modelos são ditos de crescimento económico endógeno, pois pela primeira vez explicam o crescimento económico dentro do próprio modelo, formalizando e quantificando os rendimentos crescentes à escala- se duplicarmos o nosso stock de ideias de input, os nosso outputs muito mais do que duplicarão. Que importa isto para a agricultura e agronomia?
Relembremos que dos primeiros passos de invenção e, subsequentemente mercantilização da ideia, logo inovação se bem sucedida muitas delas passam pelo sector primário. O paper de Zvi Griliches de 1950 da Econometrica sobre a inovação no sector agrícola, continua a ser citado e uma referência incontornável na inovação agrícola.
Resumindo: o Nobel da economia de 2018 é complementar: junta a Natureza (Nordhaus) e o Conhecimento (Romer) nos modelos de crescimento de longo prazo, retirando-se daqui que as políticas agrícolas sustentáveis e de inovação de longo prazo são cruciais para toda a economia e, naturalmente, para os leitores mais assíduos deste blogue para a prática diária agrícola e, de igual modo, também para a ciência agronómica.
Miguel Rocha de Sousa, Economista.
Para saber mais destes desafios globais económicos não só agrícolas:
Press release sobre Nobel da Economia de 2018.
https://www.nobelprize.org/prizes/economic-sciences/2018/summary/
Press release popular e de divulgação
https://www.nobelprize.org/uploads/2018/10/popular-economicsciencesprize2018.pdf
Resumo cientifico detalhado (mais para economistas formais)
https://www.nobelprize.org/uploads/2018/10/advanced-economicsciencesprize2018.pdf
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