O recente relatório do World Economic Fórum (WEF) de riscos mundiais de 2020, identificou    pela primeira vez, que todos os cincos maiores riscos mundiais, são todos climáticos.

A emergência climática é uma realidade, não apenas reconhecida pelos movimentos sociais jovens, liderados por Greta Thunberg, pelas instituições Nações Unidas (IPCC, UNEP, etc.), Banco Mundial, Banco Europeu de Investimento (BEI).

A recente empossada comissão Europeia, liderada pela presidente von der Leyen, desenhou a estratégia para 2030-2050 de um plano de sustentabilidade para todo o continente europeu, a entrar em vigor em Março. O dito Pacto Ecológico Europeu, contra as alterações climáticas e a perda da biodiversidade (ver link abaixo) começou a ser desenhado em Dezembro de 2019, e estará em negociação até Março de 2020, sendo chamados os cidadãos, os cientistas e os agricultores a pronunciarem-se e a participarem no processo.

Esta estratégia de combate às alterações climáticas, com base na descarbonização total da economia e continente europeu, tem assim como objetivo ter um continente europeu com carbono zero em 2050.

Com este desiderato, desenhou-se um Pacto Ecológico Europeu, que engloba um Plano de Financiamento Europeu para esta estratégia multianual. O orçamento é de 5 Biliões de Euros, com financiamentos múltiplos e cruzados entre diferentes (DGs) Direções Gerais, no nosso caso, com o enfoque particular na PAC.

A agricultura/agronomia contribui e em muito para as alterações climáticas, com a produção de carbono pela atividade agrícola, de metano pelos animais. O novo roteiro da Comissão Europeia, inclui uma parte intitulada from “Food to fork”, i.e. da alimentação ao garfo.

Os seguintes dados retirados do World Economic Fórum são esclarecedores: “mais de 10% das emissões climáticas totais devem-se a desperdício alimentar entre 2010-2016, cerca de 30% do total da comida produzida não é consumida, e o desperdício gera metano, um gás 50 vezes mais forte que a emissão de carbono. 50% da emissão de metano advém da produção de carne vermelha, Estima-se que a população mundial, em 2050, atinja 9,7 Biliões, o que levará a uma maior pressão alimentar e dos solos, o solo está a degradar-se cem vezes mais rapidamente do que se está a formar nas zonas de produção agrícola, metade da cobertura do solo perdeu-se nos últimos 150 anos, e a erosão liberta carbono na atmosfera, o que leva a inundações, secas, poluição e alterações climáticas. Os humanos impactam sobre 70% da zona da terra livre de gelo, levando a que um quarto dessa terra se degrade, sendo que 37% de todas as emissões humanas de carbono advém do uso da terra, incluindo agricultura, uso da floresta e produção alimentar.” Isto reforça a necessidade dos três Rs, Reciclar, Renovar, Reutilizar, e essencialmente evitar o desperdício. De qualquer modo, a ONU tem esperança de que se usarmos a terra somo fonte de sequestro de carbono a mudança poderá ser positiva e realizável.

Paul de Grauwe, um economista belga da London School of Economics (LSE) de nomeada, famoso macroeconomista e de economia politica tem desenhado uma proposta que o próprio Banco Central Europeu (BCE), a Comissão, e as instituições europeias querem por em prática, os Green Bonds, ie os títulos monetários verdes. Ou seja, procurar-se-á indexar a produção monetária e financeira ao seu impacto ambiental.

Note-se que esta proposta não é assim tão inovadora como isso, mas a sua implementação de facto é inovadora. O próprio Nobel da Economia de 2000, Joseph Stiglitz, no seu livro a Globalização e os seus Descontentes, propunha a criação de uma moeda mundial indexada à emissão de carbono, ou seja, criar um verdadeiro dinheiro mundial de carbono.

Numa proposta holística e inovadora eu próprio e os meus co-autores, calculámos a trajetória de ecocídio, que o planeta terra defrontará a manter-se o  status quo. Não se trata de uma versão mais do que catastrofista, apenas realista, com o fito de desenhar uma estratégia holística abrangente, evolucionista, que de facto altere este desastre do status quo.

O desenho desta estratégia tem a ver com o desenho de um risk/reward premium de cooperação ou não, no jogo entre os multi-agentes na esfera mundial, numa estratégia de teoria dos jogos, i.e. de comportamento estratégico entre os diferentes agentes.

Tivemos oportunidade de discutir esta proposta académica, em sede de debate a Ordem dos Economistas, em Cascais em Dezembro passado, com a deputada europeia Dr.ª Margarida Marques. Revelou-se, na altura o interesse global do parlamento europeu nesta temática inserida na agenda europeia de sustentabilidade, e salientou-se na altura a complexidade da proposta e da realidade em causa.  A necessidade de uma visão de facto holística, i.e. verdadeiramente global das alterações climáticas, foi reforçada e conclui-se, que a Europa tinha de se afirmar como líder neste processo.

A própria comissão no Pacto Ecológico Europeu redefiniu os objetivos de emissão de carbono de passar de um índice em base 100 de 1998, e com valor de 80 em 2017, em vez dos previstos 60 em 2030 para 45 em 2030, para chegar à neutralidade carbónica em 2050, i.e. índice 0.

Ignorar as alterações climáticas, numa estratégia à la Trump, é um tiro não só no pé, mas no coração de toda a humanidade!

A Microsoft acabou de anunciar que até 2030, a empresa tem como objetivo, um nível carbono negativo, ou seja, fazer mais sequestro de carbono do que emissões associadas à sua atividade.

Miguel Rocha de Sousa, Economista do Desenvolvimento,

Universidade de Évora, Professor Auxiliar.

Para saber mais da estratégia da UE ver:

Pacto Ecológico Europeu:

 

Especificamente a relação da PAC com o Pacto Ecológico Europeu:

http://capreform.eu/agriculture-in-the-european-green-deal/

A posição dos cientistas europeus na participação da PAC com o fim das alterações climáticas:

www.idiv.de/en/cap-scientists-statement.html

Um resumo do WEF das alterações climáticas baseado em factos da NU:

https://wef.ch/2KAcvzL/

Para saber mais, da nossa proposta de visão holística das alterações climáticas:

Caleiro A.B., de Sousa M.R., de Oliveira I.A. (2019) Global Development and Climate Change: A Game Theory Approach. In: Sequeira T., Reis L. (eds) Climate Change and Global Development. Springer, Cham, 15-31.http://dx.doi.org/10.1007/978-3-030-02662-2_2