O impacto da produção agrícola na libertação ou sequestro de carbono no solo tem sido um tema recorrente nos estudos de agroecologia. Muito se sabe e ainda mais falta saber. Uma abordagem que segue para um nível de informação superior na análise dos impactos da agricultura é a do ciclo de vida. Ao analisar uma cultura em termos de ciclo de vida, não só se tem em conta os balanços de nutrientes e os impactos ambientais no campo, mas também no resto do percurso e transformação até ao consumidor final. Estes estudos têm a desvantagem de ser mais dificilmente generalizáveis, no entanto, permitem ter em conta toda a realidade agro-alimentar que envolve um produto de origem agrícola.
Num estudo realizado em Itália foi acompanhado o ciclo de produção e transformação do trigo em pão integral. O caso estudado envolve a transformação numa panificação de média dimensão e distribuição no comércio de retalho. Assim foi possível calcular a pegada de carbono da produção de pão, comparando um sistema agrícola de produção biológica com um sistema convencional. Foram tidos em conta o transporte das matérias-primas, as operações culturais, as emissões de azoto, as emissões ligadas à moagem, à panificação e à distribuição.
O sistema de produção biológico estudado envolveu operações de incorporação de luzerna no solo antes da sementeira, mobilizações do solo (convencionais: lavoura, gradagem), sementeira e colheita, sendo a produtividade por hectare de 1,5 toneladas.
O sistema tradicional envolveu operações de lavoura e gradagem, sementeira, três aplicações de fertilizante, uma aplicação de fungicida e uma de herbicida e colheita, com produtividade de 6 toneladas por hectare.
A fase seguinte da estimação do impacto da produção de pão envolve o cálculo da percentagem da produção total de grão que segue para moagem (90%) e os gastos papel para embalar a farinha. De seguida, foram analisados os impactos da panificação, incluindo as distâncias percorridas pela farinha e pelo sal usados na produção (o fermento era produzido na padaria), a eletricidade, os gastos com combustível para os fornos (cascas de noz das explorações da região), embalagem e transporte do pão. Por fim, todos os consumos e emissões na fase de retalho também foram tidos em conta.
No geral os investigadores verificaram que as emissões de gases de estufa para produzir um pão integral de 1kg no sistema biológico foram 1,55 kg equivalentes de CO2, enquanto que no sistema convencional as emissões por quilograma de pão foram de 1,18 kg. Verificaram também que a maior parte das emissões de gases de estufa ocorrem durante a produção agrícola.
A maior contribuição na emissão de gases da agricultura biológica deve-se à menor produtividade deste sistema. Se para produzir um quilograma de pão em sistema convencional são necessários 2,13 m2 de área, para o trigo orgânico são necessários 8,52 m2. No entanto, se se analisar as emissões por hectare, verifica-se que em biológico são 60% inferiores ao sistema convencional.
A principal conclusão está na necessidade de aumentar a produtividade em sistema biológico, para reduzir a pegada ecológica do produto final. Pois, se por um lado as emissões por hectare do trigo biológico tornam esta cultura amiga do ambiente, as produtividades são muito baixas.
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