O clima mediterrânico encontra-se na transição entre o deserto e os climas temperados. Este facto leva a algumas preocupações quanto à sua evolução na sequência de alterações climáticas. Uma equipa multinacional estudou e modelou cenários de alterações climáticas e os seus impactos nas necessidades de rega de duas culturas de grande importância para Portugal: trigo e tomate.
Modelos obtidos através de séries temporais climáticas levam a prever um aumento de temperatura do ar superior ao aumento médio da temperatura no planeta e uma redução da precipitação, com maior variabilidade de ano para ano. Espera-se reduções de produtividade devido à redução da duração dos ciclos das culturas e escassez de água, ao passo que maiores níveis de CO2 na atmosfera podem parcialmente compensar as perdas.
Com base em dados meteorológicos e climáticos globais é possível estabelecer modelos e cenários de alterações. Juntando dados locais, ao nível da parcela, incluindo os tipos de solos, torna-se possível desenvolver modelos que estimem a duração dos ciclos de cultura, a duração de cada fase das culturas, as áreas que serão no futuro adequadas a cada tipo de culturas e, muito importante, as suas necessidades de rega.
Com base em toda esta informação, a equipa da qual faz parte o investigador português Luís Santos Pereira, conseguiu desenvolver cenários de evolução da temperatura e precipitação até 2050. O aumento da temperatura média prevê-se maior no Norte de África e Médio Oriente e com maiores alterações nos meses de Verão. No nosso país é de esperar também um maior aumento das temperaturas no Verão, e menores alterações nas restantes estações. Quanto à precipitação, prevê-se que Portugal seja dos países com maiores decréscimos anuais, apesar de um aumento da precipitação no Inverno. Este estudo indica ainda que Portugal será dos países onde será maior o impacto na evapotranspiração.
Quanto aos efeitos nas culturas, estima-se uma redução de 15 dias no ciclo de cultura do trigo, devido ao aumento da temperatura, que poderá acelerar o crescimento até à floração. Já na cultura do tomate, prevê-se uma redução do ciclo em cerca de 12 dias.
Em geral espera-se uma redução na duração das culturas, um aumento das áreas de cultivo de ambas as culturas devido ao aumento da temperatura. A redução da precipitação na Primavera poderá levar a necessidade de irrigação em trigo em regiões onde hoje se pratica sequeiro, sendo o impacto em tomate menor, já que em geral esta é uma cultura de regadio.
Por fim os investigadores destacam que este é apenas um cenário possível, existindo ainda muitas variáveis a ter em conta, nomeadamente a disponibilidade de água para rega, as variedades usadas e práticas agronómicas que até 2050 se espera que se desenvolvam.
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