A intensificação e maior eficiência de sistemas de produção animal exige um controlo dos parâmetros produtivos e das condições de bem-estar que apenas se apresenta viável com recurso a sistemas automatizados. A identificação electrónica tem sido apresentada como a melhor alternativa, mas é ainda assim uma solução que requer tempo na aplicação dos identificadores e que tem alguns inconvenientes para os animais. É ainda frequente a dificuldade de leitura dos identificadores, devido a interferência com outros equipamentos das explorações.
Com o desenvolvimento de sistemas de reconhecimento facial, surge a possibilidade de adaptação desta tecnologia ao reconhecimento animal. Um grupo de investigação britânico tem explorado a possibilidade da aplicação de reconhecimento facial a porcos.
Os investigadores testaram três métodos de identificação em dez porcos no ambiente da exploração, dois deles são métodos desenvolvidos para identificação humana e um terceiro, desenvolvido pelo grupo de investigação.
O método desenvolvido utiliza uma câmara montada num bebedouro, de forma a capturar a imagem frontal da cabeça do animal, sem que este a consiga alcançar. Neste ambiente, a câmara está exposta a poeira, vibração, variações de luminosidade e outros aspectos que dificultam a aquisição das imagens, como as diferentes posições da cabeça dos animais enquanto bebem. A experiência de captura de imagens foi realizada em duas sessões, durante dois dias em que a câmara esteve ligada, sem intervenção humana. Nestes períodos, foram recolhidos milhares de imagens que depois foram limpas pelo modelo desenvolvido, de forma a ficarem apenas aquelas que o sistema considerou diferentes.
O método desenvolvido pelos investigadores, cujos detalhes (redes neuronais convolucionais) podem ser consultados no artigo que divulgamos no fim, revelou-se capaz de identificar cada animal com 96.7% de precisão. A identificação dos animais faz-se maioritariamente pela região do nariz, das pregas acima do nariz e pelo topo da cabeça, onde existem mais marcas de pigmentação na raça em questão, um cruzamento Large White x Landrace x Hampshire. Os olhos são um indicador menos relevante na identificação de cada animal.
No entanto, os investigadores destacam como um dos sistemas usados para reconhecimento humano (VGG-face.), sem qualquer adaptação, também conseguiu identificar individualmente cada animal, com uma precisão de 91%.
Dada a capacidade destas redes neuronais para o reconhecimento tanto de humanos como de porcos, os investigadores consideram que esta tecnologia pode ser facilmente transposta para outras espécies. Pensam ainda que, recorrendo a câmaras com imagens 3D, será possível realizar estimativas da variação da condição corporal dos animais. No futuro, será ainda necessário verificar como este método se adapta a observações ao longo do tempo e como será o reconhecimento de animais mais sujos ou ao longo do seu crescimento e envelhecimento.
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