A adaptação às alterações climáticas tem colocado diversos desafios às ciências agrárias em geral. O clima mediterrâneo, dadas as suas características de transição entre os desertos e os climas temperados, poderá ser extremamente afectado, com acontecimentos extremos cuja evolução é algo imprevisível. Mas a escolha dos sistemas de produção adequados poderá ser uma forma de manter a produtividade e sustentabilidade ambiental e económica. As consociações e sistemas não extremes podem ser um importante recurso na adaptação dos sistemas às alterações climáticas.

A Península Ibérica conhece bem os benefícios de sistemas agro-florestais, com o grande destaque económico do montado, que inclui ainda a parte pecuária. Este tipo de sistemas permite aproveitar os benefícios das interacções entre uma cultura perene e uma arvense, com tempos e necessidades diferentes, que exploram os recursos de forma complementar. Ainda mais, certos estudos apontam ainda para a capacidade de sistemas florestais terem a capacidade de regular o clima abaixo do copado, moderando as temperaturas extremas, protegendo do vento e limitando a evaporação do solo.

No caso particular de árvores e culturas arvenses, sistemas silvo-aráveis, as nogueiras surgem como uma espécie de interesse. As árvores têm a capacidade de explorar camadas mais profundas do solo, não competindo pelos nutrientes necessários aos cereais. No entanto, a competição por água deixa algumas reservas, pelo menos nas condições mediterrânicas, limitando estas combinações a cereais de Inverno, que também serão menos afectados por ensombramento.

Entra então a possibilidade de usar uma consociação ou sistema de culturas alternadas de cevada e nogueira que, dada a boa resistência da cevada à seca, poderá ser particularmente interessante no nosso clima. Assim, num estudo realizado em Espanha, na região da Extremadura, comparou-se os parâmetros de produção de um nogueiral com 9 anos em extreme, com culturas de cevada e de trigo intercaladas e ainda com as monoculturas de trigo e cevada. Ao longo de três anos foram estudados a produção de biomassa total e de grão e o aumento do diâmetro à altura do peito (DAP). Foram ainda observadas a evolução dos nutrientes no solo e nas plantas. Verificaram-se diferenças significativas nas respostas dos diferentes sistemas às variações do tempo entre anos e diferenças entre os próprios sistemas.

O sistema nogueira/cevada foi o mais favorável à produção de grão em situações de calor extremo, com aumentos significativos (até 55%) da produção. Já o trigo não beneficiou da presença de árvores para a produção, apenas para o conteúdo de azoto no grão. Quanto às nogueiras, verificou-se um menor aumento do DAP nos sistemas mistos.

Em condições ideais ao desenvolvimento dos cereais, estes serão prejudicados pela competição das árvores por nutrientes e água e pelo ensombramento. No entanto, em anos em que ocorram ondas de calor, tais como aconteceu nos ensaios nas primaveras de 2014 e 2015, as árvores têm um efeito protector das culturas, reduzindo a evaporação e a temperatura e permitindo maior produtividade em comparação com monoculturas.

Quanto ao menor aumento do DAP nas nogueiras, poderá estar relacionado com o menor teor de potássio nas análises foliares. O potássio é o segundo nutriente mais importante na nutrição da nogueira, podendo este ser um ponto a ter em conta no planeamento da fertilização nos sistemas mistos.

No geral, os investigadores concluíram que a produtividade dos sistemas mistos é superior à dos de monocultura. Em particular, nos anos com ondas de calor, os sistemas mistos foram aqueles onde a presença das árvores mais beneficiou os cereais. Quando existem cenários que apontam para mais de metade dos anos entre 2020 e 2050 com temperaturas superiores a 25oC na segunda quinzena da Abril, estes resultados tornam-se bastante relevantes, em especial para a produção de cevada.

Saiba mais aqui (artigo) e também aqui (um projecto na Grécia).