A agricultura de conservação é um dos pontos mais destacados na investigação do nosso parceiro ICAAM. Os investigadores deste centro da Universidade de Évora, talvez pela região em que se inserem, têm vindo a contribuir para um maior conhecimento e desenvolvimento destas práticas.

No fim de um dos Invernos mais quentes de que há registos e com preços nos produtores a baixar, existem bastantes razões para questionar o porquê da ainda baixa adesão a práticas de agricultura de conservação, já que na realidade presente técnicas como a não mobilização permitem não só reduzir consumos de combustível e mão-de-obra, ao reduzir o número de operações, como também se apresentam como um serviço à sociedade ao contribuir para o sequestro de carbono da atmosfera, incorporando-o na matéria orgânica do solo. Adicionalmente, também a cobertura do solo permite reduzir a erosão.

De facto, segundo Gottlieb Basch, professor da Universidade de Évora e presidente da ECAF (Federação Europeia de Agricultura de Conservação), a Europa tantas vezes noticiada como a defensora do ambiente mundial encontra-se muito atrás de outras regiões do mundo, com menos de 2% da superfície agrícola neste sistema. No entanto, no conjunto dos europeus, Portugal até está entre os países mais bem posicionados, com cerca de 4% da SAU, segundo um estudo levado a cabo por este investigador*. Mas mais pode ser feito.

Como escrevia Antônio Márcio Buainain (professor universitário e uma autoridade em alterações climáticas no Brasil) acerca da crise hídrica que o seu país vive presentemente: “A crise hídrica está oferecendo uma  oportunidade de mudanças, e abre um novo campo para o negócio da agricultura: produzir natureza e principalmente água”. Em Portugal, penso que se poderia ainda acrescentar “produzir solo”.

Há no entanto críticos à agricultura de conservação, acusando-a de ser dependente do uso de herbicidas. Em particular, as recentes notícias na comunicação social sobre potenciais efeitos cancerígenos do uso de glifosato, têm dado fôlego às críticas. Mas quão bem informados estão estes críticos que aparecem nos jornais e de que forma podem influenciar a opinião pública? Por outro lado, fica a questão sobre como divulgar melhor os benefícios da conservação dos solos, como educar uma população urbana que só conhece dois tipos de agricultura: a dos velhinhos analfabetos e aquele invisível fenómeno que faz com que todos os dias aterrem toneladas de alimentos nos supermercados sem saber como?

A publicação desta semana fica por aqui, só a rasar a superfície deste tema. Fica tanto para falar ainda! A contribuição dos comentadores vai ser essencial para continuarmos a avançar na divulgação de toda a investigação que está a ser feita e para nos dirigir para conteúdos cada vez mais interessantes e úteis a quem nos lê.

Nota: Não seria justo não referir o trabalho notável da APOSOLO, que tem sido o veículo de informação e apoio técnico às práticas de mobilização reduzida e não-mobilização em Portugal.

Ficam aqui também as referências usadas neste texto (duas entre tantas!):

* Basch, G., Friedrich, T., Kassam, A., & Gonzalez-Sanchez, E. (2015). Conservation Agriculture in Europe. In Conservation Agriculture (pp. 357-389). Springer International Publishing.

** http://www.jb.com.br/pais/noticias/2015/02/16/o-agricultor-do-seculo-xxi-de-produtor-de-alimentos-a-produtor-de-natureza/