Com as macieiras em plena floração, esta semana debruçamo-nos sobre o planeamento da instalação e manutenção de pomares de pomóideas e citrinos numa perspectiva agroecológica.
O desenvolvimento de estratégias de planeamento e gestão de culturas de forma sustentável é mais simples em culturas anuais. Em pomares, não só é necessário ter em conta as diferentes fases da vida das árvores, mas também os diferentes níveis de ocupação do espaço, em particular, a gestão do solo e a vegetação da entrelinha.
Com o objectivo de reduzir o uso de fitofármacos em fruteiras, o governo francês tem promovido a investigação seguindo uma abordagem do sistema agrícola como um todo. Este tipo de abordagem foi inicialmente desenvolvido para as culturas arvenses, baseando-se numa sequência de passos que visam abarcar toda a complexidade do sistema de agricultura, desde o planeamento, à gestão e avaliação o conjunto de actividades desenvolvidas. Nas culturas anuais esta abordagem permite ir melhorando a cada ano o sistema através de melhorias, sempre visando atingir um objectivo inicialmente proposto. Tem ainda a particularidade de incluir todos os implicados na cadeia de produção na decisão e avaliação dos resultados.
Nas culturas perenes, torna-se mais complicada a aplicação desta metodologia, já que a partir do momento em que se instala o pomar, ou se realiza uma poda de formação, não será possível reverter quaisquer efeitos indesejados ou erros, apenas corrigir e minorar estragos.
Num artigo do início deste ano são descritos dois estudos de caso em macieiras e em citrinos (tangerineiras e limoeiros), respectivamente em clima temperado com influência mediterrânica e em clima tropical, sendo que em ambos os casos o tipo de pragas e doenças são aqueles comuns aos pomares portugueses, com pequenas diferenças quanto às espécies tropicais.
O objectivo comum dos ensaios foi reduzir o recurso a fitofármacos, foram comparados diferentes sistemas desde uma agricultura convencional até ao modo de produção biológico e assim foram tidas em conta as relações entre pragas e doenças, hospedeiros e auxiliares dentro dos sistemas, com vista ao melhor controlo dos inimigos das culturas. A avaliação das práticas agrícolas teve sempre em conta todos os interessados, desde os agricultores até aos consumidores, passando pela distribuição. Assim não só são tidos em conta os resultados agronómicos, mas também económicos, ambientais e sociais. Por fim, ao longo dos anos em que decorreram os ensaios, com base na avaliação contínua dos resultados, foram sendo realizadas melhorias nos sistemas de produção com vista à sua maior sustentabilidade.
As principais encontradas entre uma abordagem tradicional e a agroecológica foram que esta última se foca não só na produtividade, mas também nos serviços ambientais que se podem retirar de um sistema gerido com vista a uma maior sustentabilidade. Com base nos resultad.os desenvolveram uma metodologia para desenhar pomares mais sustentáveis em cinco passos:
- Apontar os objectivos e descrever o contexto, sendo que cada objectivo tem de ser adaptado a cada fase da vida do pomar e há que antecipar o contexto nos anos seguintes, tendo em conta o mercado, a mão-de-obra ou o clima.
- Definir a instalação no espaço e a estratégia agronómica de gestão.
- Criar regras de decisão, tendo em conta a escala da árvore, da linha ou do sistema agroecológico.
- Experimentação ao longo dos anos.
- Avaliação e validação.
As principais conclusões deste estudo foram as diferenças no planeamento de culturas perenes, com várias escalas e níveis em relação ao solo, que implicam ter em conta muitas relações que se estabelecem entre as várias espécies que ocupam o espaço. Verificaram ainda que para pôr em prática todo este enquadramento é necessário sempre contar com os diferentes implicados, não só os produtores, mas toda uma cadeia que inclui a sociedade que poderá retirar benefícios tanto da disponibilidade e qualidade dos produtos como benefícios ambientais e até de paisagem. Assim a avaliação de sustentabilidade do sistema só está completa com a opinião de todos.
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