Se por um lado a agricultura contribui de forma significativa paras as emissões de gases de estufa para a atmosfera, por outro lado é neste sector que se encontram algumas das práticas mais interessantes de mitigação das alterações climáticas. Em particular, o carbono que pode ser incorporado na matéria orgânica do solo permite, segundo alguns estudos, potencialmente capturar um décimo das emissões de dióxido de carbono anuais mundiais.
A preparação para diferentes cenários de alterações climáticas poderá vir a permitir mitigar os impactos destas nos sistemas de agricultura. Num estudo realizado em Espanha, foram analisados quatro cenários de alterações climáticas, para os quais foram feitas simulações da evolução do carbono orgânico do solo até 2100.
O estudo, abrangeu toda a comunidade de Aragão, com diferentes paisagens, orografia e clima. Esta região tem cerca de metade da superfície em uso agrícola, com 80% de arvenses, na sua maioria em sequeiro, e culturas de olival, vinha e amendoal, podendo gerar informação generalizável a outras regiões da Península Ibérica.
Os investigadores usaram um modelo de simulação da evolução do carbono orgânico do solo (RothC) e aplicaram-no a quatro modelos de evolução do clima (dois com emissões mais elevadas e dois com emissões de gases mais baixas) mais um cenário de base para comparação. Na estimação dos modelos tiveram em conta o carbono proveniente da biomassa produzida pelas culturas, os resíduos de cultura subterrâneos, os resíduos de poda das culturas lenhosas, a aplicação de estrumes e os dejectos de animais em pastoreio. Todos estes dados foram calculados consoante os sistemas de cultura de cada um dos 309 pontos de observação georreferenciados.
Foi também considerada a água proveniente de irrigação e a precipitação. Os cenários de alterações climáticas para Espanha preveem um aumento de temperatura até 6oC em alguns casos e redução de precipitação.
Os investigadores incluíram ainda nas suas simulações modelos de gestão do solo alternativos, tais como não-mobilização em arvenses e cobertura permanente em lenhosas.
Os resultados das simulações mostraram uma tendência para aumento da matéria orgânica do solo em todos os cenários de alterações climáticas, mas superior no cenário base, de manutenção do clima dos últimos trinta anos. Note-se que as simulações foram feitas assumindo reincorporação dos resíduos de cultura no solo. Tais aumentos de carbono no solo podem estar relacionados com as previsões de redução da precipitação, que por sua vez pode levar a uma menor mineralização do carbono. No entanto, é nas culturas regadas que se prevê maior aumento do carbono do solo, provavelmente associado a mais resíduos de cultura. Já o olival tradicional, com mobilização, foi o sistema com previsão de maiores perdas de carbono.
Quando os investigadores entraram com a gestão do solo nos modelos, verificaram que a não-mobilização poderá levar a um aumento do carbono orgânico duas vezes superior ao controlo.
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