Nos últimos vinte anos, diversos estudos têm vindo a investigar o impacto da agricultura biológica nos solos. Os resultados apontam para que, uma vez que não se aplicam fitofármacos, a fauna do solo tende a aumentar, ao mesmo tempo que a presença de resíduos de cultura e de vegetação permite uma protecção contra a erosão. Assim, em muitos dos estudos realizados na Europa, verifica-se um aumento do carbono orgânico nos solos após a transição de um sistema de agricultura convencional para agricultura biológica.

Os estudos sobre o impacto da agricultura biológica, no entanto, têm sido realizados em clima temperado, sendo a investigação em climas semi-áridos e áridos e, em especial, mediterrâneos, muito mais escassa. No entanto, na bacia do Mediterrâneo, o longo historial da agricultura e o desenvolvimento recente de sistemas cada vez mais intensivos, tem levado a grandes perdas de solo por erosão, a compactação, ou a impermeabilização, todos problemas que estão também associados a perda de matéria orgânica do solo.

Em Espanha, a citricultura é uma actividade de grande importância económica, com grande intensidade de inputs na maioria dos casos. No entanto, a área em modo de produção biológico tem vindo a crescer, sendo no presente 3% da área, mas com perspectivas de crescimento futuro. Assim, um grupo investigação internacional estabeleceu ensaios de observação da evolução do carbono orgânico do solo ao longo de 21 anos, entre 1995 e 2016, em pomares em produção. O estudo foi realizado num pomar de laranjeiras estabelecido numa área de produção de citrinos desde os anos 60, e plantado em 1995 em modo de produção biológico. Neste pomar as infestantes são cortadas, os resíduos de poda são triturados e adicionados ao solo e é feita aplicação de estrume de ovelha.

Ao logo de 21 anos o solo foi analisado no inverno e no verão. Verificou-se que após os primeiros cinco anos do pomar o carbono orgânico teve um crescimento logarítmico nas camadas superficiais do solo após 21 anos houve um aumento de 126% do carbono orgânico na camada de 2-3 cm e de cerca de 50% nas camadas até 18 cm de profundidade, sem que tenha sido observada uma alteração significativa em camadas mais profundas.

Os investigadores notam que aquando do estabelecimento do pomar biológico o solo tinha poucos organismos e calculam que o período de cinco anos até se verificarem diferenças significativas no carbono do solo se deve ao tempo que novos organismos levaram a estabelecer-se neste novo ambiente. Este resultado, destacam, deve ser tido em conta noutros estudos, já que muitos dos resultados deste tipo de estudos não chega a ter em conta o tempo que leva a restabelecer a vida e o ecossistema.

Defendem ainda que o sequestro de carbono em pomares de citrinos é uma estratégia importante para o combate às alterações climáticas, dado que após os primeiros cinco anos o acréscimo de carbono no solo foi constante.

Saiba mais aqui.