Numa altura do ano em que muitas barragens já estão com valores críticos de reservas de água, fomos à procura de soluções numa das mais importantes revistas científicas: a Nature Genetics. A tolerância à seca é uma característica extremamente complexa de identificar em termos de melhoramento vegetal. Depende do grau de severidade de falta de água, do intervalo de tempo em que afecta a planta e em que fase da vida ocorre.
Num estudo altamente abrangente, investigadores asiáticos analisaram a taxa de sobrevivência à carência de água extrema em plântulas de milho de 367 linhas diferentes, originárias tanto de climas tropicais como temperados. As plântulas originárias de climas tropicais e subtropicais foram aquelas que em geral exibiram maior tolerância a seca extrema. Com base neste resultado, os investigadores foram então procurar em todo o genoma das plantas por variações genéticas que pudessem estar associadas com a tolerância. Encontraram 83 variações ínfimas, de apenas um nucleótido (SNP), que mais tarde revelaram 42 genes que poderiam estar associados à maior sobrevivência em condições de seca extrema.
Das variações genéticas que se revelaram mais significativas a conceder tolerância à seca, três foram encontradas num único gene, localizado no cromossoma 9 do milho. Ou seja, nas linhas que geram plântulas capazes de resistir a seca extrema encontram-se estas variações em relação a plantas sensíveis.
Um estudo do gene onde ocorrem as variações identificou as suas funções na planta. Em plantas transformadas, onde se inseriu este gene mutante, verificaram proliferação de raízes laterais, que pode ser um sinal bem visível da capacidade de procurar por água. Mas ao nível celular estas variantes permitem toda uma alteração do funcionamento da célula de forma a permitir o seu normal funcionamento em situações de carência hídrica. Uma destas alterações está relacionada ainda com a eficiência fotossintética.
Após identificarem as linhas de plântulas tolerantes a seca extrema, estas foram cultivadas em condições hídricas diferentes e a sua produtividade quantificada. Verificaram que a tolerância à seca não afecta a produção de grão em condições hídricas normais e que estas plantas tolerantes têm de facto maior produtividade em condições de stress hídrico quando comparadas com plantas que não contêm o gene de tolerância à seca.
O conhecimento deste gene, chamado ZmVPP1, e das variações que nele ocorrem para conferir tolerância à seca permite de futuro seguir dois caminhos interessantes no melhoramento: por um lado, usando técnicas de sequenciação, é possível identificar de forma expedita variedades comercias que o possam conter e garantir a sua maior resistência em situações de seca; é também possível aos melhoradores desenvolverem daqui para a frente linhas geneticamente modificadas contendo este gene.
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