A alfarroba, cultura milenar da qual já aqui falámos, é parte essencial da paisagem do Barrocal algarvio. Tradicionalmente as encostas das serras algarvias foram cultivadas com pomares mistos de alfarrobeiras, figueiras, amendoeiras e oliveiras. No entanto, em décadas recentes esta paisagem tende ao abandono ou, em declives menos acentuados, à substituição por monocultura de regadio com maior rendimento económico, como é o caso dos citrinos.
Cada uma destas culturas tem, no entanto, um enorme potencial e interesse económico, tanto em pomares de monocultura, como na recuperação dos pomares tradicionais. Sendo importante na manutenção da paisagem, biodiversidade e na fixação de populações ligadas a um novo fôlego da agricultura baseada em espécies tradicionais.
A análise da produtividade do alfarrobal tendo em conta a economia do carbono, traz ainda mais interesse a uma cultura cuja utilização tanto alimentar como industrial vem sendo crescente. Em geral, os estudos sobre sequestro de carbono em espécies lenhosas referem-se a espécies florestais, mas os pomares de sequeiro podem ter um interesse semelhante. Num estudo cujos ensaios de campo se situaram em pomares próximos de Loulé, foram analisados os sistemas de cultura de sequeiro de alfarrobal puro ou misto. Com este estudo, os investigadores pretenderam avaliar o potencial destes sistemas em quase abandono como fonte de rendimento complementar para as populações da região e o seu potencial contributo para a conservação.
Os investigadores realizaram medições das árvores de forma a estimar o seu crescimento e acumulação de carbono e também a sua produção de alfarroba. Um resultado marcante neste estudo é a enorme variabilidade na produtividade dos pomares puros por árvore por ano num mesmo pomar, sendo que metade das árvores amostradas não produziu nos anos estudados. A produtividade das alfarrobeiras em pomares mistos foi 2,6 a 3 vezes maior do que nos pomares puros. Quanto à acumulação de carbono, os investigadores verificaram que é ligeiramente maior em pomares mistos, cerca de 17,8 toneladas por hectare.
Os resultados indicaram que grande parte da diferença de produtividade é explicada pelo diâmetro da copa da árvore, que por sua vez está associada a árvores maiores, com diâmetros do tronco maiores e cultivadas em pomares mais dispersos. Deste modo, o interesse na conservação dos pomares tradicionais impõe-se, trazendo rendimentos das restantes espécies em anos de contrassafra da alfarrobeira, maior diversidade florística e menor competição entre árvores, o que permite maiores diâmetros de copa, que não só estão associados a maior produtividade como também a um maior sequestro de carbono, que se prevê poder vir a ser remunerado no futuro, como parte de um serviço agro-ambiental.
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