A soja é uma das principais culturas mundiais, sendo a principal fonte de proteína vegetal cultivada. Os alimentos processados contêm diversos ingredientes que lhes conferem sabor, textura e durabilidade, sendo muito comum o uso da proteína de soja, em particular em substitutos da carne e do leite.

A soja é também a mais importante cultura geneticamente modificada, sendo a grande maioria da soja produzida no mundo modificada, tanto para tolerância a herbicidas, como resistência antibióticos, resistência a lagartas, e melhoria das suas propriedades nutricionais. Na União Europeia já são permitidas 12 variedades transformadas, duas das quais resistentes a glifosato. Todas estas variedades estão sujeitas a legislação específica, que obriga à etiquetagem de alimentos contendo mais do que 0,9% deste ingrediente. A fiscalização é feita através da análise por PCR (reacção em cadeia de polimerização de ADN), que permite procurar por pequenas sequências de ADN específicas e multiplicá-las, de forma a obter quantidades observáveis. É ainda possível quantificar a presença do ADN na amostra.

Em Portugal, a soja não é uma cultura muito importante, sendo a maioria do que consumimos importada, muitas vezes já incluída em alimentos processados. Foi nesses alimentos que um grupo de investigação da Faculdade de Farmácia do Porto se concentrou para avaliar a existência de soja geneticamente modificada.

As análises foram realizadas em alimentos obtidos em supermercados nacionais, que incluíram tofu, bebidas e sobremesas de soja, bolachas, massas e molhos. Extraíram ADN dos alimentos e utilizando PCR, buscaram pela presença de lectina de soja. Em 88 das 90 amostras, encontraram ADN de soja, mesmo que em quantidades vestigiais. Nestas amostras buscaram então pela presença de marcadores moleculares para a presença das duas variedades de soja resistente a glifosato e encontraram em dez dos alimentos testados.

O passo seguinte foi quantificar a presença das sojas modificadas através de PCR em tempo real e curvas de calibração para cada marcador molecular em questão. As quantidades encontradas de soja geneticamente modificada foram vestigiais em nove das amostras. No entanto, numa pasta de soja adquirida numa loja de alimentos orientais foram detectadas ambas as variedades de soja resistente a glifosato num total de 23% da soja contida na pasta.

Os investigadores compararam estes resultados com outros obtidos noutros países e verificaram que as quantidades de soja nos alimentos analisados em Portugal são muito baixas.

Num outro trabalho anterior dos mesmos autores foi também analisada a presença de milho modificado. Nesse caso, foram encontradas mais infracções, com 4% das amostras de alimentos a conter quantidades de mmilho geneticamente modificado acima dos 0,9% sem exibirem a etiqueta. Os autores do estudo consideraram que a menor ocorrência de transgressões neste estudo sobre soja se deve ao progressivo apertar do controlo dos estados europeus nos últimos anos.

Este estudo permite verificar como em geral o controlo da etiquetagem dos alimentos funciona. No entanto, também é importante continuar a fiscalizar, em especial produtos muito processados importados.

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