Esta semana temos mais um tema, que é a resposta ao desafio de descobrir o que sabemos sobre a criação de caracóis. Foi com alguma surpresa que descobri a boa qualidade da investigação aplicada nesta área.

A tradição de consumo de caracóis nos países mediterrânicos torna a Europa deficitária nestes pequenos moluscos, tradicionalmente apanhados na natureza. Mais recentemente, a publicitação de benefícios relacionados com a baba do caracol tem feito disparar a procura, sendo geralmente importados caracóis de Marrocos, o maior exportador mundial. Assim, nos últimos anos, a criação de caracóis tem vindo a crescer na Europa, sendo Portugal ainda pouco organizado nesta actividade, ao contrário de países como a Itália e a França.

Da parte da oferta, o reconhecimento da necessidade de diversificar as fontes de proteína animal, torna a helicicultura uma actividade com interesse. Mais ainda quando se avalia a qualidade nutritiva deste alimento, rico em aminoácidos essenciais e gorduras polinsaturadas.

Do ponto de vista ambiental, sabe-se que a criação de caracóis tem uma pegada de carbono pequena por quilograma de carne produzida quando comparada com as espécies pecuárias convencionais, necessita de menor energia, já que se trata de um animal que não gasta energia a aquecer-se, ao contrário dos animais de sangue quente, as suas emissões de amónia ou metano são mínimas, necessita de áreas pequenas e tem baixo risco de transmissão de doenças para os humanos.

No entanto, o desenvolvimento ainda recente da helicicultura traz algumas questões quanto à sua sustentabilidade ambiental e ao controlo sanitário.

Existem três sistemas de produção, um mais intensivo, onde todo o ciclo ocorre em recinto fechado, o regime misto semi-intensivo, onde a reprodução e eclosão dos ovos é feita em ambiente fechado controlado e a engorda ao ar livre e o regime extensivo, onde todo o ciclo ocorre ao ar livre, replicando as condições da natureza e que pode ser adaptado e certificado como produção biológica.

O regime intensivo tem a vantagem de permitir controlar as condições ambientais e a alimentação, permitindo produzir durante todo o ano. Os gastos nas estruturas e energia e o recurso a alimentos compostos tornam esta modalidade mais onerosa, mas permitem produzir durante todo o ano e disponibilizar estes animais a preços mais elevados fora da época de disponibilidade na natureza. O facto de ter muitos animais confinados pode ainda facilitar a propagação de doenças.

O regime misto permite reduzir os custos de produção, ao passo que consegue produzir duas posturas por ano.

O regime a céu aberto é aquele que tem menores custos fixos de produção. No entanto, os animais estão expostos ao ambiente durante, podendo estar mais vulneráveis a predadores e ser afectados por condições ambientais adversas. Assim o ciclo de produção alonga-se mais no tempo e apenas permite ter animais no mercado nos meses de Verão. Apesar destes inconvenientes, no caso do mercado português, a tradição de consumo apenas no Verão torna este sistema de produção mais interessante do que por exemplo no caso francês, onde o consumo das espécies grandes de “escargots” ocorre todo o ano.

Para saber mais sobre efeitos ambientais, veja aqui. Para informação completa sobre a parte sanitária, veja aqui, uma tese de mestrado em medicina veterinária.