Quando os modelos meteorológicos mais avançados nos apontam para alterações climáticas, em cada país e região será necessário começar a preparar o futuro. No Sul de Portugal, em particular, existem razões para nos preocuparmos, pois tudo aponta para temperaturas mais elevadas e redução da precipitação. Neste cenário, em que parece que o deserto se está a aproximar, será necessária uma adaptação dos sistemas de agricultura, em particular, da irrigação, gerando um desafio aos engenheiros rurais.
Esta semana divulgamos um artigo de investigadores portugueses que não só estima os impactos de cenários de alterações climáticas como também de medidas de adaptação, tanto nas variedades usadas como no planeamento da irrigação*.
Partindo de quatro cenários de alterações climáticas, gerados para os últimos trinta anos deste século, foram calculados modelos de necessidades de irrigação tendo em conta aumentos de temperatura entre os 2,9o C e os 4,1oC e redução da precipitação entre 22 e 38%. Estes modelos foram aplicados em duas rotações: girassol-trigo-cevada (representando um sistema tradicional onde apenas o girassol foi regado) e beterraba sacarina-milho-tomate-trigo (representando uma alternativa). De forma a precaver a redução prevista de duração do ciclo das culturas, foram também testadas duas alternativas culturais: utilizar as variedades presentemente usadas (poupando água) ou utilizar novas variedades cujos ciclos mais longos compensariam as perdas de produção por encurtamento do ciclo de crescimento.
Combinando todas as variáveis, os investigadores obtiveram 40 simulações possíveis de necessidades de irrigação. Tal como esperado, as rotações com cultivares de ciclos mais longos tiveram as maiores necessidades de irrigação. Nas outras variedades, redução do tempo de crescimento não teve grande efeito na redução das necessidades de irrigação. A cultura onde se verificaram maiores necessidades foi a beterraba-sacarina, pois nestes cenários irá requerer rega durante o outono-inverno.
Os investigadores sugerem ainda que o planeamento e o equipamento de rega terão grande importância, não sendo de esquecer que maiores necessidades de rega vão implicar gastos acrescidos em equipamentos e tubagens (mais longas e com maior diâmetro), já que no pico das necessidades de rega preveem aumentos de 8 a 23% de consumo de água. Por outro lado, prevendo-se menor disponibilidade de água, também a área irrigada tenderá a decrescer.
As variedades de ciclos mais longos, para manterem os níveis de produção das tradicionais, poderão chegar a exigir consumos de água até 59% mais elevados. Por outro lado, as variedades tradicionais não parecem necessitar de aumentos de rega significativos, já que o ciclo da cultura se prevê mais curto.
Por fim, é ainda de destacar a importância do tipo de solo na adaptação às alterações climáticas.
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