A meio deste verão de grandes incêndios, esta semana divulgamos um estudo sobre o papel do pastoreio e da demografia na incidência dos fogos florestais em Portugal.

O estudo realizado por investigadores de centros da UTAD junta dados de censos realizados em Portugal Continental entre 1930 e 2001, analisando freguesia a freguesia a densidade populacional humana e de herbívoros domésticos e, recorrendo a análise de clusters, agrupa as freguesias por padrões de evolução comuns. A estes dados os autores juntaram informação oficial sobre incêndios, nomeadamente a percentagem de área ardida o número de fogos ocorridos por unidade de área em cada ano. Desta forma conseguem encontrar padrões de tipos de incêndios por tipo de paisagem.

A análise da diversidade de ocupação da paisagem gerou 13 grupos diferentes, em termos de densidade populacional humana e densidade de pastoreio. Ao inserir a incidência de fogos, conseguiram retirar conclusões importantes sobre a ocupação do espaço e o fogo.

Verificaram alguns padrões:

Regiões com grande intensidade de pastoreio por pequenos ruminantes e grande número de fogos reportados, onde o fogo é usado para obter pastagens ou fruto de conflitos de uso da terra – este padrão verifica-se nas terras altas no Norte de Portugal e nas Beiras. No entanto, estes fogos, sendo um quinto dos ocorridos, são responsáveis por um décimo a área ardida, na sua maioria áreas não florestadas. Os fogos florestais nestas regiões ocorrem maioritariamente em pinhal e em áreas onde o pastoreio de cabras é reduzido, o que vai ao encontro de outros estudos que verificam a importância do pastoreio na redução de biomassa passível de causar ignição.

Ao longo do tempo, a redução da densidade populacional, o abandono da agricultura e pastorícia e a monocultura e uniformidade da paisagem florestal geram acumulação de biomassa, maior área ardida e maior número de incêndios.

Os investigadores, apontam para a necessidade de conhecer melhor, ao nível sociológico, aquilo que acontece nas regiões mais críticas, uma vez que são as populações e os indivíduos que as compõem quem necessita de apoio e também quem pode iniciar mudanças. Apontam assim para a necessidade de educar as populações, tanto rurais como urbanas, bem como uma formação e consciencialização dos pastores e da sua importância crucial na manutenção e gestão da paisagem.

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