A exploração pecuária está associada a alguns impactos negativos a nível mundial. Com o crescimento do consumo de carne em todo o mundo, tem-se vindo a verificar perda de terrenos florestais para pastagens e terrenos cultivados para forrageiras e aumento de emissões provenientes de da decomposição de estrumes e da fermentação entérica.
Uma das principais externalidades associadas à produção de carne é a emissão de metano, na exploração de ruminantes. As emissões de metano provenientes da fermentação, produzem anualmente 2,8 gigatoneladas de equivalentes de CO2, sendo 77% provenientes de bovinos. Com o aumento da procura por carne associada à emergência de novas classes médias em países em desenvolvimento, esta tendência deverá agravar-se.
Os ruminantes consomem 80% das plantas produzidas para alimentação animal, na sua maioria gramíneas. E são também as gramíneas que têm maior influência nas alterações na ingestão de alimentos, digestibilidade, e consequentes ganhos de peso, produção de leite ou capacidade reprodutiva. O valor nutritivo das gramíneas também vai ter efeito na emissão de metano, sendo menor quando a proporção de fibra é menor em relação aos açúcares, ácidos orgânicos e proteínas.
A relação entre a variabilidade da qualidade das forragens e a produtividade de ruminantes está comprovada pela experiência, verificando-se a variação anual do valor nutritivo destas influencia o aumento de peso ou a produção de leite, bem como as emissões de metano. Do mesmo modo que em regiões tropicais ou áridas, a produtividade é geralmente menor, associada a maiores emissões de metano. Tal deve-se em parte ao facto de um menor teor em azoto nos alimentos impedir a fixação do carbono e assim levar à sua perda na forma de metano.
Ora esta constatação levou uma equipa britânica a questionar se o impacto de alterações climáticas, que se prevê poderem levar a aumentos de temperatura e seca, não levará uma redução do valor nutritivo das gramíneas e em consequência pior digestibilidade que leva em última análise a maiores emissões de metano, que por fim, sendo um gás de estufa leva a maiores aumentos de temperatura. Uma perspectiva algo preocupante.
Para testar a hipótese recorreram a uma revisão sistemática da literatura científica sobre efeitos da alimentação nas emissões de gases e produtividade, combinada com modelos complexos de elaboração de cenários de alterações climáticas, tendo em conta temperatura e precipitação, todos estes dados ainda combinados para diferentes regiões bioclimáticas.
Os resultados destes modelos revelam que os aumentos de temperatura deverão levar a perda de valor nutritivo das forragens e consequente aumento da fermentação entérica e produção de metano. Este efeito, combinado com o aumento previsto pela FAO do número de ruminantes no mundo poderá levar a um aumento de emissões das actuais 2,8 GT CO2eq para 4,8 GT CO2eq. Sendo este cenário preocupante.
Os autores ressalvam, no entanto, que não têm em conta quaisquer efeitos contrários, como maior incorporação de fertilizantes, ou alterações nas práticas culturais. Ainda assim, verifica-se que se se mantiver a tendência sem qualquer alteração nos sistemas de produção e também no consumo de carne e leite, os efeitos no clima são um ciclo vicioso, onde maiores emissões levam aumentos de temperatura, que reduzem a qualidade das forragens e levam a ainda maiores emissões.
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