Em 2005, James Howard Kunstler previa o mundo após “O fim do petróleo”. Cidades fantasma, indústrias encerradas, carroças, num mundo em adaptação forçada a um clima em mudança e sem o apoio dos combustíveis fósseis.
Sem minimizar o aviso deixado nesse livro, mas também sem alarmismos, esta semana visitamos uma proposta, que vem aparecendo em trabalhos científicos, de repensar a utilização da tracção animal. O fundamento por detrás desta tendência, mais do que a questão energética, é a prevenção e recuperação de solos compactados e a manutenção e trabalhos em solos difíceis e declives acentuados, tanto em agricultura, como no caso de vinhas velhas, como em floresta.
O uso de animais de tracção em países desenvolvidos é hoje residual, praticamente restrito a agricultura ou silvicultura de muito pequena dimensão. No entanto, começam a aparecer ensaios de campo sobre a viabilidade do uso de animais em contextos comerciais e profissionais.
Uma equipa do Instituto Politécnico de Bragança debruçou-se sobre a viabilidade da força animal. Baseados em ensaios próprios e de outros autores verificaram que em condições de trabalhos de limpeza em florestas sem trilhos, o uso de cavalos pode ser mais barato para arrastar os resíduos em distâncias até 200m. No próprio Instituto têm ainda experimentado o uso de burros no trabalho de vinhas velhas; neste caso acrescentam que ao dar uso aos animais, se está a contribuir para a preservação desta espécie e da diversidade das suas raças locais. Avançam ainda que, no caso de áreas protegidas, o uso de animais pode ainda fazer mais sentido.
Outro estudo, realizado por investigadores croatas também aponta para situações onde o uso de animais na agricultura poderá ser interessante. Um desses casos é na prevenção da compactação dos solos, também estudada em Portugal. Se em Portugal se usaram burros para os estudos, na Croácia, preveem ensaios com cavalos de uma raça autóctone de trabalho, a Posavian. O uso de animais poderá ser combinado com técnicas de agricultura de conservação, como as culturas de cobertura e adubo verde. Faltam ainda estudos de viabilidade económica e de efeitos reais na qualidade dos solos. No entanto, apenas a possibilidade de um uso residual de animais de trabalho na agricultura pode ter interessantes impactos sociais e económicos localizados, como a recuperação e valorização de profissões ligadas aos animais.
Resta ainda a abordagem do ponto de vista social e de opinião pública e de como salvaguardar uma discussão realista e fundamentada em torno de outros assuntos como bem-estar animal.
Saiba mais aqui, aqui e aqui, onde poderá encontrar uma lista de artigos técnico-científicos.
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