A figueira é uma planta cultivada há mais de 2000 anos, cheia de particularidades e tradições associadas, que a tornam sempre interessante. A figueira destaca-se como cultura tradicional do Mediterrâneo, com uma tolerância moderada à salinidade, que lhe permite ser produtiva em condições costeiras semi-áridas. Esta característica torna-a interessante também para a exploração da sua cultura regada com águas residuais, que podem ter um alto teor de sais.
Apesar de ser uma cultura tão antiga e enraizada na cultura mediterrânica, ainda está pouco estudada do ponto de vista molecular, onde se esperam mais conhecimentos que possam ser extrapolados para melhoramento e também para compreensão de outras culturas. O facto de 20% da área mundial irrigada ser afectada por salinização torna este tema ainda mais premente.
A vontade de explorar os mecanismos de tolerância ao sal, motivou um estudo sobre as respostas moleculares à salinidade nesta cultura. Plantas da cultivar italiana Dottato foram expostas durante sete semanas a um teor elevado de sal na água de rega. Ao fim de 24 e de 48 dias de exposição à salinidade, foram retiradas amostras de folhas, cujo RNA foi sequenciado. Este RNA foi comparado com outro de plantas cultivadas em condições de salinidade normal.
Note-se que estamos habituados a falar de sequenciação de DNA, o genoma. Neste caso, a sequenciação do RNA – o transcriptoma – revela apenas quais dos genes contidos no DNA é que estão a ser “lidos” para produzir proteínas. O transcriptoma é assim uma medida da reacção de um organismo ao seu meio, já que mostra apenas qual a parte da informação genética que está a ser usada numa situação em particular. Comparando o RNA transcrito numa situação de stress (neste caso salino) com o RNA transcrito numa situação ideal, consegue-se perceber as alterações fisiológicas ao nível molecular e também descobrir quais os genes que são usados em determinada situação.
Os resultados destes ensaios mostraram que ao fim de 24 dias as alterações no transcriptoma foram relativamente pequenas, indicando uma tendência de base destas plantas para tolerar o sal. No entanto, ao fim de 48 dias de salinidade, as alterações nos genes expressos foram significativas, alterando as funções dentro das células.
O estudo permitiu também identificar alguns genes claramente relacionados com a presença de salinidade, ou seja, que são transcritos apenas quando a planta está com problemas deste tipo (genes regulados pela salinidade). Estes genes assim identificados podem vir a ser usados para identificar plantas mais ou menos tolerantes ao sal e assim ser um contributo importante para programas de melhoramento, tanto da figueira como de outras culturas.
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