Após décadas de abandono da cultura do amendoal, em especial no Algarve, o declínio de produção na Califórnia trouxe para o nosso país novos investimentos nesta cultura. A expansão da área de amendoal intensivo em Portugal tem sido extremamente rápida, gerando alguma perplexidade com a sustentabilidade da cultura e o que fazer após os amendoais deixarem de ser rentáveis.

Apesar da procura e dos preços elevados da amêndoa, a cultura tradicional não parece ter grande interesse para os agricultores, ao contrário do que acontece em Espanha, onde a amendoeira é a principal cultura lenhosa de sequeiro. Nos amendoais tradicionais, geralmente plantados em solos pobres, a densidade é baixa e a monda geralmente feita por mobilizações frequentes do solo. A produtividade é também baixa.

Partindo da observação que estes amendoais tradicionais podem ser um sistema de cultura interessante do ponto de vista da sustentabilidade, têm sido estudados de modo a reduzir os impactos negativos da mobilização do solo. Assim, a mobilização reduzida e a incorporação de resíduos vegetais no solo têm sido estudados como forma de combater a desertificação, degradação do solo, aumentando a estabilidade dos agregados e a matéria orgânica. Para além destes efeitos directos, também se esperam externalidades positivas como serviços de ecossistema que podem abranger até a regulação do escorrimento ao nível de bacias hidrográficas e a redução no consumo de combustíveis fósseis nas operações.

Foram realizados ensaios em pomares tradicionais na região de Múrcia, onde se observaram as emissões de carbono para a atmosfera e uma análise económica da cultura. Nestes amendoais foram observadas quatro estratégias de mobilização do solo: mobilização tradicional, o controlo; mobilização reduzida com ou sem adubação verde e não mobilização. Os amendoais foram geridos em modo de produção biológico durante o tempo dos ensaios que duraram sete anos num e dez noutro.

Para cada tratamento houve resultados diferentes para emissões de gases de estufa entre as explorações, que podem estar relacionados com diferenças na potência dos tractores usados numa e noutra. Foi observada uma redução média de 33% de emissões no tratamento de não mobilização, mas este apenas foi aplicado numa exploração. Em ambas as explorações observou-se que a maior emissão de gases por talhão foi nos talhões de adubação verde, já que se teve em conta o processo de obtenção das sementes usadas. Estes talhões foram também aqueles onde o custo de produção de amêndoa foi maior, devido aos custos de aquisição das sementes. Já os talhões de mobilização reduzida e não mobilização permitiram reduzir os custos em comparação com a mobilização tradicional. No entanto, o sistema de não mobilização foi o que teve menor produção em volume, contrastando com a mobilização tradicional, que permitiu maior produção por área.

Considerando a análise económica e a ambiental juntas, a mobilização reduzida foi a estratégia que permitiu o maior rácio lucro/emissões de gases.

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