Os percebes são uma iguaria rara no mundo. Do ponto de vista da biologia, têm um ciclo de vida algo peculiar, sendo mais parecidos à primeira vista com moluscos do que com os seus parentes crustáceos, algo que partilham com as cracas. Vivem a vida adulta agarrados a rochas na rebentação, a filtrar o que a maré traz. A sua recolha implica muitas vezes arriscar a vida e, no entanto, portugueses e galegos pagam o preço para os poderem consumir.
O seu interesse económico e o impacto da sua recolha em grande escala nas populações levam a que tenha surgido investigação no sentido de entender melhor a sua biologia e ecologia e de que forma se poderá desenvolver um grupo de técnicas que permitam a aquacultura deste marisco.
A importância que a aquacultura tem vindo a ganhar na produção de espécies de elevado valor económico, levou a dois projectos de investigação neste sentido em Portugal: AQUAPOLLIS e AQUAPOLLIS+. Estes projectos de investigação têm vindo a permitir testar diferentes formas de produzir percebes em substratos, como jangadas, que permitam uma recolha fácil. Mas os desafios têm sido grandes. Os investigadores observam que em jangadas submersas, no período do Verão, outros organismos como cracas e mexilhões também se fixam e competem por espaço e alimento com os percebes, levando ao seu desaparecimento. No segundo projecto, os investigadores têm vindo a testar outras opções que minimizem incrustação de outras espécies, incluindo um sistema de cultivo permanente em terra e um onde alternam terra e aas jangadas. Nestes sistemas de cultivo sobressai o uso de um substrato artificial que se instala nas rochas e que vai permitir recolher mais facilmente as placas com os percebes e transferir para os outros locais de cultura.
Para além das condições de local de cultivo, também têm sido testados regimes de alimentação diferentes em laboratório, que têm sempre de ser combinados com condições hidrodinâmicas, já que é o batimento das ondas no meio natural, que permite a chegada de alimento a estes filtradores.
Estes projectos já deram origem a teses de mestrado, que apontam caminhos para o desenvolvimento da aquacultura, duas das quais podem ser consultadas aqui (I.P.Leiria) e aqui (U. Évora).
Uma das conclusões destes estudos foi a importância dos substratos artificiais (barticles) que permitem recolher os juvenis nas rochas e transferir para outras condições de cultivo. Outra foi a confirmação da viabilidade biológica do cultivo de percebes, desde que estes sejam retirados das jangadas e levados para laboratório durante o verão. Outra conclusão foi a importância da elevada turbulência do meio para a maior facilidade de alimentação e o consequente maior crescimento dos percebes.
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