O problema. A FAO prevê que a população mundial irá atingir os 8 mil milhões de habitantes em 2025 e em 2050, 9,6 mil milhões. Deste modo e para manter este ritmo de crescimento, estima-se que a produção agrícola terá de aumentar cerca de 70% até 2050.
O desafio do aumento das necessidades alimentares (em quantidade e qualidade) está assim lançado assente numa conjuntura que se prevê pouco favorável, na qual se tem assistido a um abrandamento no crescimento da produtividade das culturas, a previsível escassez e/ou aumento de preço de alguns dos recursos e factores de produção mais básicos, ao limitado acesso a terra arável, ao aumento da procura do recurso água, ao aumento tendencial do preço da energia, ao aumento da migração da população rural para as áreas urbanas e peri-urbanas e ao impacto das alterações climáticas devido ao efeito dos fenómenos extremos (nomeadamente a mudança das zonas climáticas e agrícolas para os polos, alterações nos ciclos de vida de plantas e animais devido ao aumento das temperaturas, alterações dos padrões de precipitação, etc.).
A solução passará inevitavelmente por uma agricultura moderna capaz de ser competitiva, produtiva, rentável e portanto, eficiente. Este tipo de gestão em agricultura surgiu há alguns anos atrás e intitula-se vulgarmente de “Agricultura de Precisão”. O conceito de agricultura de precisão está normalmente associado à utilização de equipamentos de tecnologia avançada para avaliar e/ou monitorizar as condições numa determinada parcela de terreno, aplicando depois os diversos factores de produção (sementes, fertilizantes, fitofármacos, reguladores de crescimento, água, etc.) em conformidade.
Quer a monitorização quer a aplicação diferenciada requerem o conhecimento aprofundado da variabilidade espacial e temporal do potencial produtivo do meio envolvente e das necessidades das culturas, quer sejam cultivadas em pequenas ou grandes áreas. Estas diferenças proporcionam a gestão da variabilidade espacial das características de uma parcela de terreno (gestão intra-parcelar) e fazem com que os agentes tratem cada parcela de modo diferente de acordo com as suas potencialidades e necessidades.
São dois os objectivos genéricos da Agricultura de Precisão: o aumento do rendimento dos agricultores pelas vias distintas mas complementares, da redução dos custos de produção e aumento da produtividade e por vezes da qualidade dos produtos obtidos das culturas; o segundo objectivo prende-se com a redução do impacte ambiental resultante da actividade agrícola relacionado com o rigoroso controlo da aplicação dos factores de produção que devem ser aplicados, tanto quanto possível, à medida e na justa proporção das necessidades das plantas.
É pois um tipo de abordagem bem mais exigente do que a actividade agrícola tradicional, que implica uma preparação técnica mais sólida e multidisciplinar, desafiando as empresas agrícolas a tirar partido destas múltiplas fontes de informação que já têm disponíveis, para uma gestão agrícola mais eficiente garantindo a sustentabilidade económica, social e ambiental da actividade.
Miguel Fernandes
Engº Agrónomo
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