A produção e consumo de carne vermelha, em particular de vaca, tem vindo a ser apontada como uma importante fonte de emissões de metano e causadora de males ambientais, dos quais o mais referido é a desflorestação para abertura de pastagens.

A Austrália é um dos maiores exportadores mundiais de carnes vermelhas. Esta é uma indústria importante no país, mas tal como em Portugal e no resto do mundo, sofre pressões devido ao seu contributo para as emissões de gases de estufa. A preocupação em manter produtivo este sector importante da economia australiana é grande e tem levado a que haja investigação sobre como reduzir a sua pegada de carbono.

Investigadores australianos estudaram roteiros de redução das emissões até à neutralidade carbónica, começando por acentuar que a investigação tem permitido reduzir emissões e que entre 2005 e 2015, as emissões na Austrália reduziram-se para quase metade. Após identificar pontos onde é possível reduzir as emissões, foram propostos seis roteiros. Os pontos chave foram redução de desflorestação, gestão de queimadas em paisagens de savana, redução da fermentação entérica e ainda uma melhor gestão da eficiência de produção, com redução de encabeçamento.

A base de comparação, chamada de “business as usual” baseia-se nos sistemas de produção de 2015. Os restantes roteiros são:

“Gestão da Vegetação”, onde o abate de florestas para pastagem tem cinco anos para acabar e o carbono do solo estabilizará em 2030.

“Engorda”, onde se aumenta o número de cabeças engordadas a farinha, de modo a libertar pastagem (aqui não se entende se tiveram em conta as emissões causadas pela transformação de rações). Neste ponto, os investigadores propõem ainda reduzir a fermentação entérica através de aditivos, como a alga Asparagopsis taxiformis.

“Pastagem – Baixa adopção”, neste roteiro, apostam pela inclusão de mais leguminosas na composição das pastagens, de forma a reduzir as emissões de metano por fermentação. Também aqui existe um esforço de gerir o fogo, em particular prevenir cada vez mais os fogos florestais.

“Pastagem – Alta adopção”, onde se propõe um esforço maior na redução da fermentação.

“Carne de vaca de alto valor”, onde a redução do número total de vacas, com maior intensificação na engorda. O número de ovinos e caprinos mantém-se igual neste cenário.

“Para lá do Metano”, um caminho disruptivo onde uma série de alterações estruturais e futuristas são propostas, desde uma vacina anti-metano, selecção de animais menos poluentes, e investigação em novos aditivos alimentares.

De todas as alternativas estudadas, a última seria aquela capaz de chegar a uma indústria neutra em emissões de gases de estufa. A intensificação da produção e engorda de gado pouca diferença faz quanto ao presente. Outra forma de atingir a neutralidade será pela plantação de mais floresta, onde tanto maior área plantada será necessária quanto mais longe o sistema se encontra da neutralidade.

Os investigadores consideram que a indústria australiana pode tornar-se neutra em emissões de carbono a longo prazo e com os devidos incentivos. Consideram ainda que este estudo tem possibilidade de contribuir para redução de emissões em países como o Brasil, onde a produção de carne tem tido muita influência na desflorestação. Assim sendo, seria importante criar incentivos à reflorestação por parte dos produtores.

Apesar de se tratar de uma realidade bastante diferente da portuguesa, a divulgação deste estudo talvez possa apontar alguns pontos de discussão para o futuro.

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