Nos últimos tempos é comum ver nos rótulos dos alimentos a indicação “sem glúten” e toda uma indústria tem florescido à volta da sensibilidade a esta proteína presente no trigo, no centeio e na cevada. As doenças relacionadas com a sensibilidade ao glúten, das quais a mais conhecida é a doença celíaca, afectam cerca de 7% da população ocidental, levando a que as pessoas sensíveis tenham que encontrar alternativas alguns dos cereais mais comuns na alimentação humana.

O trigo é um dos principais componentes da dieta humana. No trigo mole são cerca de 100 genes que codificam as proteínas α-gliadinas , as responsáveis por causar o desenvolvimento de doença. Esta complexidade tem tornado difícil obter plantas “sem glúten” através de estratégias de melhoramento comum ou de mutagénese. No entanto, recentemente uma equipa de investigadores espanhóis conseguiu desenhar uma nova estratégia de melhoramento capaz de reduzir a quantidade de α-gliadinas no grão de trigo, levando assim a menor impacto nos doentes intolerantes ao glúten.

O método desenvolvido baseia-se no desenvolvimento de sequências de RNA que foram usadas para transformação em duas variedades de trigo mole e uma de trigo duro.  Estas sequências (CRISPR/Cas9) foram desenhadas para se ligarem a uma região do DNA do trigo responsável por codificar uma sequência de aminoácidos importante. O resultado da transformação foram 21 linhagens transgénicas.

Após processos de selecção e de cultivo das plantas obtidas, estas foram sujeitas a análises de reactividade com anticorpos para verificar se ocorria reacção ao glúten presente nas farinhas. Verificou-se uma redução até 85% do conteúdo de glúten. Um importante resultado foi ainda a transmissão destas características para a geração seguinte, o que indica que poderá ser transmitido para outras variedades cultivadas através de cruzamentos.

Outro resultado importante foi a verificação da manutenção das propriedades das farinhas destas linhas melhoradas de trigo, que mantêm as propriedades de organolépticas e físicas das farinhas normais.

A metodologia permitiu que após todo o processo as plantas obtidas não tivessem qualquer presença das sequências usadas em transformação. Logo, estas plantas não são transgénicas, esta técnica apenas foi usada como meio para silenciar os genes responsáveis por certas sequências das proteínas de glúten.

O melhoramento desta técnica, que neste caso foi apenas aplicada a uma sequência de DNA, poderá levar à aplicação noutras sequências, que poderão ter outros resultados, levando à obtenção de diferentes linhas de trigo capazes de ser usadas para cruzamentos com linhas altamente produtivas em programas de melhoramento, para obter variedades produtivas e sem glúten.

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