Os cogumelos silvestres vêm ganhando popularidade nos últimos anos, deixando de ser uma curiosidade gastronómica local, para ingredientes de pratos populares, muito pela influência da cozinha italiana. São uma fonte de rendimento adicional em regiões de soutos e pinhais, onde ocorrem naturalmente, mas o seu valor económico veio criar um incentivo à sua domesticação e cultivo. Uma das espécies com maior interesse comercial é a Boletus edulis, os porcini italianos.
Os boletos ocorrem associados simbioticamente a algumas espécies florestais, em geral levando algumas décadas a estabelecer-se a relação e produção do cogumelo. No entanto, foi verificada a existência de simbiose entre o fungo e as raízes de estevas partir dos três anos de idade, o que abre a possibilidade para o desenvolvimento de plantas jovens inoculadas com o fungo, de forma a que as micorrizas se desenvolvam. Neste processo descobriu-se o papel de espécies bacterianas na mediação da formação de micorrizas e foi este papel que uma equipa espanhola tem vindo a explorar com vista à domesticação da espécie. As bactérias da espécie Pseudomonas fluorescens são das mais frequentemente encontradas em ectomicorrizas, apontando para a sua importância de mediadores do processo. Outros estudos confirmam um aumento de micorrizas na presença desta bactéria.
Com vista ao desenvolvimento de um protocolo de síntese de micorrizas em estevas, o primeiro passo é a obtenção de grande número de plantas estéreis para inocular com o fungo. Assim, são micropropagadas plântulas de esteva, para mais tarde serem inoculadas simultaneamente com o fungo e a bactéria ajudante.
O inóculo de B. edulis foi isolado na natureza, em matos de esteva no Noroeste de Espanha e retiradas amostras de tecido interno, sem contaminações, para cultivo em placas com meio nutritivo e mais tarde transferido para substrato. O inóculo bacteriano teve origem laboratorial, sendo uma estirpe conhecida por potenciar a micorrização de outra espécie de fungo em pinheiro de Alepo.
Ao atingirem cerca de 7cm, as plantas micropropagadas foram transferidas para o substrato onde já cresciam os fungos há 2, 3, ou 4 meses (juntamente com a bactéria ou não) e cultivadas durante 5 meses. Após este tempo, as plantas foram observadas ao microscópio, para verificar a presença de ectomicorizas de boletos.
Os investigadores observaram a formação de micorrizas em 32% das plantas, sem que a presença da bactéria auxiliar tenha tido um efeito significativo. Também não encontraram diferenças quanto ao tempo de inoculação do micélio de boletos no substrato.
Os investigadores conseguiram identificar pontos onde melhorar a inoculação no futuro, mas a possibilidade de obter micorrizas de boletos em laboratório é já um passo importante para um futuro estabelecimento de uma cultura comercial desta iguaria em meio florestal.
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